Quando pauso um e-book para comprar o respectivo livro em formato físico, é porque algo de muito interessante o livro terá. Ouvi falar primeiramente do “The Antidote” no canal da Emily Fox (youtuber que já mencionei algumas vezes por aqui) embora já não me lembre se foi pela positiva ou pela negativa. Para além dessa vez, nunca mais ouvi ninguém mencioná-lo sequer. O que não é assim tão surpreendente, tratando-se de um livro publicado em 2012, esse ano longínquo onde não sabíamos o que era uma pandemia e onde o nome Elon Musk ainda estava associado a coisas não (muito) polémicas.
O autor Olive Burkman, jornalista britânico, entrevistou dezenas de pessoas, desde especialistas científicos a indivíduos comuns que por uma ou outra razão adoptaram filosofias e modos de vida originais. O curioso é que todas elas divergem das clássicas oratórias de auto-ajuda focadas em motivação, optimismo forçado e busca constante pela felicidade. Ao invés, forçam-nos de alguma maneira a enfrentar a realidade e a repensar como encarar os nossos falhanços, as nossas perdas, incertezas e até a própria morte.
Estoicismo
É o desenvolver de um estado de calma e tranquilidade permanente, mesmo perante situações adversas. Nada é inerentemente bom ou mau, só o modo como pensamos nas coisas é que influencia o nosso estado de espírito. Uma abordagem interessante dos estóicos é a “premeditação do mal“, (ou “visualização negativa”) – se estamos perante uma decisão assustadora podemos, em vez de nos focar na saída favorável, visualizar antes os piores cenários possíveis e teorizar sobre o que faríamos caso se concretizassem. E vamos perceber que muito raramente esses cenários pessimistas são tão catastróficos como a nossa mente nos quer fazer pensar de antemão.
Budismo
Pensamentos não são mais do que sensações que nos passam pelo cérebro, tal como as imagens que nos chegam aos olhos ou cheiros ao nariz. Por que não deixar então esses pensamentos fluírem livremente pela mente e evitar reflectir demasiado sobre eles? É a abordagem “non-attachment” seguida pelos budistas que nos pode ajudar a tomar decisões ou acções mesmo que não estejamos no estado mental que achamos mais ‘correcto‘.
Goalodicy
É o termo cunhado por um orador para o fenómeno observado em pessoas que perseguem objectivos com tanto ardor que esses objectivos se transformam na sua identidade, o que pode levar a um grave fosso mental quando ocorrem ‘falhanços‘ na procura desses fins. É uma teoria contrária aos mantras de que somos mais felizes e bem sucedidos quando elaboramos e seguimos planos de acção muito estruturados e detalhados que nos livrem de incertezas do futuro – quando não há nenhum plano que cubra a 100% todos os imprevistos da vida. “See what happens“.
Cogito Ergo Sum (mas só que não)
“Penso, logo existo“, disse Descartes, afirmando que, podendo não saber mais nada, sabemos que se temos pensamentos então o Eu existe. Mas o que é mesmo esse “Eu” e será que existe mesmo? Filósofos discutem que não somos mais do que um conjunto de percepções da realidade a acontecer em catadupa num fluxo perpétuo, e que no meio desse processo criamos vozes interiores que identificamos como o “Eu”, ou o nosso ego. Na verdade, o ego pode não passar de uma ficção e fazíamos em bem em procurar “desidentificarmo-nos” dos nossos pensamentos, porque nós não somos a nossa mente.
Memento Mori
“Lembra-te da Morte“. E pouco mais há para dizer. Vamos todos falecer mais dia menos dia, portanto, será que vale a pena perdermos tanto tempo a preocupar-nos com minudências que seriam inócuas nas vésperas da nossa morte?
Não fui exaustiva nesta lista; o livro é curto e queria apenas apresentar uma amostra do que podem esperar. Noutros capítulos aborda-se também como procurar segurança incessantemente só nos causa mais ansiedade ou como lidar com os nossos falhanços só nos torna mais empáticos e humanos. Nenhum dos métodos é descrito de forma aborrecida ou com níveis de detalhe desnecessários (embora publicações e especialistas sejam citados quando se abordam questões mais científicas) e era mesmo isso que eu procurava: um compêndio de novas perspectivas sobre o que é mesmo a felicidade ou um estado de espírito pleno e como posso lá chegar perto. Esta visão mais negativa de encarar a vida vai mais de encontro à minha própria personalidade e este livro foi uma excelente rampa de lançamento para uma matéria que certamente quererei desenvolver mais. Já se passaram quase dois anos desde que li esta obra e muito amiúde ainda penso sobre ela e sobre como algumas mudanças de pensamento me afectaram o dia-a-dia de forma positiva. Por isso, só o posso recomendar 🙂
