Este é um livro que dispensa todas e quaisquer apresentações. Quase desde que foi lançado que é constantemente elogiado em múltiplas plataformas por todo o mundo e embora recentemente tenha voltado à ribalta devido a uma polémica no Instagram (há muito tempo que o Felipe Neto não dava que falar, devia estar com saudades), de forma geral é considerado um favorito do público. Mesmo com toda essa boa publicidade não era um livro que me despertasse interesse, mas quando foi escolhido como leitura do mês do The Characters Club, fui no embalo e resolvi-me a ler.
A premissa é apelativa e revela uma fantasia com a qual a maioria de nós provavelmente já sonhou em algum momento: ter a possibilidade de conhecer as nossas realidades alternativas caso numa grande (ou mesmo pequena) decisão do nosso passado tivéssemos optado por uma via diferente. Esta é a possibilidade que é presenteada a Nora, a protagonista, na noite em que decide tirar a sua própria vida.
Felizmente não preciso de chegar a esses extremos para dar por mim a ingressar numa viagem ao mundo dos “E se…?” e das aventuras que podia estar a presenciar agora. Podia ter-me dedicado muito mais ao voleibol e fazer disso a minha profissão e até mesmo ir aos Olímpicos. Podia ter seguido o meu verdadeiro sonho de estudar História em vez de Informática. Podia ter continuado a frequentar o grupo de jovens da Igreja e a desenvolver uma espiritualmente que actualmente resvalou para o agnosticismo. E isto para mencionar apenas alguns “pequenos” exemplos dos últimos tempos, descurando as inúmeras possibilidades que advém de aparentes escolhas inócuas.
Por esta altura estar-se-ão vocês a perguntar por que é me desviei do livro para estar a falar sobre mim própria. Porque, sinceramente, foi muito mais nas minhas experiências pessoais que fui pensando enquanto acompanhava a narrativa da Nora. São muitos capítulos de revisitações e cenários imaginados, talvez demasiados, que se foram tornando excessivos, repetitivos e aborrecidos. A introdução que nos é dada da personagem não é profunda o suficiente para me fazer ansiar conhecê-la melhor ou tudo o que ela poderia ter sido ou feito. Para além disso, o facto de me parecer bastante evidente como o livro vai acabar não deixa aquela sensação de empolgação para se chegar ao final.
De forma geral, a própria história da obra não é particularmente interessante ou cativante. Mas o curioso é que me pareceu que o próprio autor estava ciente desse aspecto. A tendência do Matt Haig para optar por frases pseudo intelectuais e filosóficas sobre escolha, gratidão, depressão, felicidade, etc lança a obra na direcção do espectro quase da “auto-ajuda” e no sentido de passar uma mensagem. A mensagem que passa é que não me surge muito clara ou mesmo proveitosa. Sob um certo prisma, algumas interacções da Nora resvalam para uma lição de “não te queixes daquilo que tens porque podias estar bem pior” – e não me parece que seja justo ou até profícuo transmitir tal ideia a um individuo em estado de depressão. Por outro lado, o autor tem falado publicamente sobre as lutas que tem travado contra a sua própria condição mental que em certos pontos se cruzam com a da Nora. Não estamos, portanto, a falar de um caso de alguém que se pôs a adivinhar sobre o que será o estado psicológico de alguém como a protagonista, e sim alguém que terá algum conhecimento empírico para discursar sobre o tema. É uma variável a ter em conta, talvez.
Em conclusão, é um livro com as suas valências e que será lembrado primordialmente pelos sentimentos que me despertou e pela reflexão que incutiu em mim mesma. A narrativa é lenta, a história pouco memorável e a escrita pode tornar-se pretensiosa por vezes. Para além disso, a superficialidade com que são analisadas algumas das variantes da Nora torna o livro algo infantil.
Mas sei que quando olho para o livro me lembro de agradecer o que tenho hoje, reavaliar o que quero e trabalhar tanto a minha gratidão como o meu planeamento do futuro. Não é qualquer obra que deixa um impacto deste género e, só por isso, merece a minha moderada recomendação.
Se pudesses escolher a melhor vida para viver, o que farias?
No limiar entre a vida e a morte, depois de uma vida cheia de desgostos e carregada de remorsos, Nora Seed dá por si numa biblioteca onde o relógio marca sempre a meia-noite e as estantes estão repletas de livros que se estendem até perder de vista. Cada um desses livros oferece-lhe a hipótese de experimentar uma outra vida, de fazer novas escolhas, de corrigir erros, de perceber o que teria acontecido se tivesse escolhido um caminho diferente. As possibilidades são infinitas e vários horizontes se abrem à sua frente.
Mas será que algum desses caminhos lhe proporciona uma vida mais perfeita do que aquela que conheceu? Na altura da escolha final, Nora terá de olhar para dentro de si mesma e decidir o que de facto lhe preenche a vida e o que faz com que valha a pena vivê-la.
Tenho na TBR e ainda nem lhe peguei!
É bom saber que não sou a última a pegar nos livros da moda :p
é um livro que mexe com a nossa cabeça, sem dúvida
E só por isso já denota alguma qualidade 🙂