Finalmente posso limpar esta mancha literária do meu currículo: hoje posso dizer que já li Afonso Cruz! Graças ao grupo Gang Di Bambinis fiz esta leitura em Março e, depois de Rosa Lobato de Faria, adiciono mais este nome à lista de potenciais novos autores portugueses preferidos.
Vou ser sincera, li algumas resenhas no Goodreads antes de começar o livro e fiquei vacilante. Não é a obra mais bem classificada do autor nem a que recebe mais elogios. Mas depois de ler e gostar bastante, só posso ficar entusiasmada porque a partir daqui será sempre a subir, presumivelmente. E não acredito que esta minha opinião derive de baixas expectativas; para mim foi, sinceramente, uma leitura de muita qualidade.
É um livro curto mas, curiosamente, não é fácil de resumir pois não estamos perante uma narrativa linear ou uma estrutura clássica. Em capítulos muito sucintos (às vezes de uma ou duas páginas) acompanhados de delicadas ilustrações (isto na edição em que li, da Companhia das Letras) seguimos o percurso de uma criança sobrevivente à perseguição de judeus da Segunda Guerra, de um homem que vende pássaros (adequadamente chamado Vogel, a palavra alemã para pássaro), de uma rapariga a quem subitamente surgem chagas, de um fazedor de bonecas e de outros pouco mais, bem como as coincidências do universo que os unirão a todos de forma tão espontânea e improvável que se poderia crer realidade.
Estou sempre num destes três lugares, são a minha maneira de manifestar-me trino e uno, só que, em vez de ser ao mesmo tempo, sou mais metódico do que Deus; nunca estou em mais de um lugar ao mesmo tempo. Não é tão prático para ter reuniões, mas permite-me estar mais concentrado. Deus dispersa-se muito.
Mais do que um enredo estruturado, estamos perante um livro cujas maiores valências recaem sobre as personagens e, principalmente, sobre a própria escrita de Afonso Cruz. Temia algo demasiado pedante e desnecessariamente sofisticado mas só encontrei harmonia, humor e talento. Estou muito curiosa para ler o autor num registo mais prosaico porque “A Boneca de Kokoschka” foi uma estreia arrebatadora que só pecou por ser uma obra tão pequena.
Os homens nunca se riem quando estão a fod**. Já ouvi dizer que não se pode ter filhos no espaço porque não há gravidade. Não há seriedade. O sexo não tem piada nenhuma. Fazemos caras de dor, mas é só isso. Não nos rimos.
Se ainda não conhecem Afonso Cruz aconselho que façam como eu e comecem com esta pequena mas belíssima obra. Mesmo que não adorem o formato acho que vão passar um bom bocado, literariamente falando. Deem uma oportunidade a um autor português que já é praticamente consagrado na nossa praça e que o é com todo o mérito e competência. Eu, por ora, vou deixar o livro marinar mais uns meses e eventualmente pegarei no “Nem todas as baleias voam”, o único romance que já tenho cá em casa. Pode não ser também o mais conhecido ou aclamado mas tenho grandes certezas de que não me desiludirá (famous last words).
Ainda nem comecei ahahahah
ahahah, uma moderadora degenerada x)
Nos últimos meses também me tem sido mais difícil fazer as leituras. Mas está tudo bem, o que interessa é ler e partilhar leituras 😀