Bem sei que não estou sozinha no que toca ao interesse quase macabro sobre o que aconteceu à última geração dos Romanov, a família imperial que governou a Rússia durante mais de 300 anos. Ainda mal eu percebia o que quer que fosse de história e já tinha como filme preferido da infância o clássico da 20th Century Fox, “Anastasia“, que conta de forma fantasiada como Anastasia Romanov sobreviveu ao ataque bolchevista e se reencontrou com a avó em Paris. Ainda hoje sei de cor praticamente todas as músicas e boa parte dos diálogos.
Tão popular é a história de como o czar Nicolau II e a sua família foram assassinados em segredo pelo Exército Vermelho que quando li o título “A Imperatriz Romanov” não pude deixar de pensar imediatamente que se tratava de Alexandra Feorodvna, a última imperatriz a governar a Rússia. Mas bem me enganei.
Foi uma excelente decisão contar esta história do ponto de vista da Minnie pois desse modo temos acesso na primeira pessoa aos acontecimentos das últimas três gerações de Romanovs – o seu sogro Alexandre II, o marido Alexandra “Sasha” III e o filho Nicolau II. Apesar de cada um ter as suas próprias ideias e personalidades, uma coisa foi comum a todos os três reinados: o descontentamento e o crescente sentimento de revolução que começava a borbulhar no povo russo, mesmo ainda no século XIX. Infelizmente, acabamos por não conhecer muito da perspectiva da plebe e de como os conflitos foram crescendo, mas acredito que existam muitos outros livros dedicados a isso. Aqui, o destaque é a corte aristocrática.
Foi fantástico – mas não surpreendente – perceber a influência que uma mulher conseguia exercer sobre o seu marido (tanto para o bem como para o mal). Enquanto Minnie emanava uma aura positiva sobre Sasha, tentanto atenuar os seus radicalismos e sendo pro-activa para com a sociedade, Alexandra funcionava como um buraco negro, consumindo todo a energia de Nicolau e exasperando os demais da família e da corte. Não que a princesa alemã tivesse poucos motivos para actuar na defensiva – desde a Rússia não ver com bons olhos os prussianos ao atraso da chegada do herdeiro, parece que tudo era razão para ostracizar Alexandra. Não obstante, a imperatriz nunca se esforçou muito para ser popular – alguns poderão considerar isso um sinal de arrojo, e em parte é – a mim acaba por passar mais por imaturidade e até inconsciência, dado o seu estatuto e a influência que exercia no actual governador de um império à beira do colapso. Seria muito interessante ler mais – e espero vir a fazê-lo – sobre como este casamento pode ou não ter sido a machadada final no sistema aristocrático russo (não que fosse um bom sistema, atenção).
Em compensação, acabamos por acompanhar o trajecto de um dos assassinos de Rasputin, o príncipe Félix Yusupov, nomeadamente a sua fuga pela Europa, acompanhado de Minnie e dos restantes Romanovs sobreviventes. É fácil incorrermos no erro de achar que o exército vermelho levou a família real à extinção no início do século XX, mas tal não aconteceu. De facto, muitas duquesas e grãos-duque foram assassinados como resultado da revolução de 1917, mas muitos outros sobreviveram – entre eles a nossa protagonista – e os seus descendentes proliferaram até aos nossos dias.