Três Pedros, três Inêses, três tempos, três destinos. Uma história de amor.
No passado, um vinculado D. Pedro e uma inocente D. Inês protagonizam a que viria a ser a maior tragédia romântica da História de Portugal.
No presente, um Pedro alucinado é internado num manicómio e revive saudosamente a sua paixão por uma Inês que perdeu, ao mesmo tempo que se debate com os seus desafios de identidade.
No futuro, um desamparado Pedro e uma promíscua Inês fazem promessas impossíveis sob um regime que condena o relacionamento entre indivíduos de castas diferentes com a pena de morte.
É a minha estreia com esta autora (da qual pouco conhecia, nem na televisão me lembro de a ver) e qual não é o meu espanto quando três páginas do livro adentro do livro levo de imediato com um punhado de calão a meio de um diálogo. E perdoem a minha candura, mas eu sou a tonta que ainda se sobressalta quando ouve a mãe a dizer uma asneira ou o avô a contar piadas picantes. Nunca gostei de jargão e eu própria raramente uso mais do que um “porra“; sempre assim foi e assim se mantém até hoje.
Não obstante, compreendo totalmente a utilizada da gíria na língua portuguesa e não condeno de qualquer modo o seu emprego (vá, só um bocadinho). Foi quando me deparei com essas palavras no início do livro que percebi que “A Trança de Inês” não seria apenas uma tríade de histórias fofinhas mas sim algo mais cru e realista – e ainda bem.
É sabido que na infância o tempo não passa, na adolescência demora-se, na idade adulta corre, na velhice precipita-se.
Pedro é um homem que está, no presente, internado num hospício (por motivos que gradualmente vamos desvendando) e experiencia o que parecem ser episódios psicóticos frequentes onde é mentalmente transportado para um Pedro de outra vida, às vezes do passado (onde é o infante D. Pedro na corte de D. Afonso IV) e outras do futuro (onde, numa realidade distópica, é um Pedro da gama ipsílon destinado à esterilização). O denominador comum das três histórias, além do próprio protagonista, é, obviamente, a sua paixão avassaladora e destrutiva por uma bela Inês de Castro e a sua trança loura.
Quem gosta de História ficará deliciado com a representação da lenda nesta obra que, mesmo que breve, é fiel até ao mais pequeno pormenor; tenho a certeza de que os leitores menos interessados nessa temática perderão muitos detalhes, embora nada disso prejudique a leitura. E o delicioso é que Rosa Lobato de Faria não deixa essas personagens no século XIV; em todas as linhas temporais conhecemos um austero pai Afonso, um saudoso avô Dinis, um dedicado escudeiro ou amigo Afonso, uma renegada esposa Constança. Mas, por mais proeminentes ou secundários que sejam, todos estes personagens cumprem o mesmo propósito – ser o pano de fundo da dramática história de amor de Pedro e Inês, uma tragédia que por mais recontos que tenha não deixa lições nem advertências para futuras encenações.
Mas ainda tive tempo de recordar o meu autor preferido (desaconselhado pelo Sistema por causa da sua bárbara preocupação com os direitos humanos): “O odor das amêndoas amargas recordava-lhe sempre o destino dos amores contrariados“. [Gabriel García Márquez]
O que pode parecer uma leitura confusa no início torna-se cada vez mais fácil de digerir a cada capítulo que passa, à medida que cada história vai ganhando definição. A representação utópica foi talvez o que mais me dececionou pois revela uma sociedade muito pouco avançada não só em relação ao presente fictício (nem sempre é fácil distinguir os dois) mas também em relação à nossa própria realidade. Mas lembremo-nos que esta obra foi publicada em 2001; duvido que mesmo a minha imaginação me levasse a sonhar com metade do que a humanidade alcançou nos últimos vinte anos. E Rosa Lobato de Faria não é com certeza nenhum Isaac Asimov ou Júlio Verne.
Mesmo quem leia e fique indiferente à trama não pode ficar alheio à qualidade literária da autora. A escrita é de uma riqueza que muitos não conseguem igualar em Portugal sem parecer pretensioso ou de vedeta. Até o pormenor de adaptar o discurso e o vocabulário dos personagens a cada linha temporal não foi descurado, e olhem que tantas vezes leio livros com supostos diferentes pontos de vista em que não há esse cuidado, soam todos ao mesmo. Aqui, é pura música para os olhos. Se algum dia escrevesse um livro, gostava que fosse neste registo. Mas não ouso sonhar tão alto.
Vem ajudar-me.
Dissimula-te na sombra, condensa-te na chuva, adensa-te na névoa, dissipa-te na espuma, orquestra-te nas vagas, espirala-te no fumo, sacraliza-te no amanhecer, despedaça-te no canto tristíssimo do rouxinol.
E à hora d’alba, quando me vires dormindo, sufoca-me, mata-me, salva-me.
Uma grande leitura, uma excelente estreia e uma muito bem vinda surpresa. Que pena que Rosa Lobato de Faria já não se encontre entre nós e tenha deixado uma bibliografia que considero tão curta. Mas “A Trança de Inês” foi só o primeiro e a próxima aventura é escolher qual se seguirá. Estou inclinada para “A Alma Trocada“ mas digam-me se tiverem melhor sugestão.
Por favor, se ainda não o fizerem, dispensem um dia ou dois e deem uma oportunidade a esta maravilha. Ou releiam ou ainda, porque não, deem uma espreitadela à adaptação cinematográfica portuguesa de 2018, “Pedro e Inês”, e juntem o útil ao agradável.
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