O final de Janeiro trouxe-me, entre outras coisas, uma estreia com um autor que há vários anos me despertava curiosidade. Mário Zambujal, jornalista, estreou-se oficialmente como escritor em 1980 com o livro humorístico “Crónica dos Bons Malandros”, uma breve história em que somos apresentados aos membros de uma quadrilha lisboeta e de um grande assalto que terão de levar a cabo na Fundação Gulbenkian.

Li este livro em formato digital e por isso só a meio é que me apercebi do quão curta a obra era, o que me intrigou. Como é que em cento e poucas páginas o autor iria conseguir espaço de manobra para apresentar os malandros do gang e ainda descrever a sequência de um assalto relativamente complexo? Bem, conseguir conseguiu, mas não foi tão bom como eu esperava.

A grande desilusão desta história foi, na verdade, a falta dela. A ação despoleta quando Renato, o líder da quadrilha, anuncia ao grupo que receberam uma proposta generosa para fazer um assalto sublime à Gulbenkian, uma novidade que muito entusiasma a malta uma vez que o seu dia-a-dia se cinge a furtos e pequenos delitos. E qual não é o meu espanto quando a descrição de tão antecipado acontecimento é relegada para as últimas dez páginas (!) do livro. E ainda nem a gente teve tempo de se indignar com tão parco detalhe e já a leitura chegou ao fim. É como ir ver o Titanic e ter de esperar duas horas para ver o iceberg e ver o navio afundar-se em cinco minutos, the end.

O grosso da obra é dedicado a capítulos de apresentação de cada membro do bando: Renato, Marlene, Silvino, Adelaide Magrinha, Flávio Doutor, Pedro Justiceiro e Arnaldo Figurante. Cada um com o seu percurso e suas peculiaridades , o comum a todos é a narrativa de tom humorístico que os acompanha, sempre com descrições e alcunhas muito à portuguesa. É, efetivamente, um livro engraçado e bem-disposto mas não hilariante como tinha ouvido dizer por aí, confesso. Eu sou uma pessoa de riso fácil, muito pouco sisuda, mas até para mim, a partir de certo ponto, as situações ridículas e os epítetos provincianos começaram a cansar e não foram suficientes para justificar a falta de um enredo propriamente dito.

A expectativa cresceu quando a orquestra – Dancing Quinteto, Janita ao
piano, Teodósio contrabaixo, Camilo no saxofone, Zé António e seu acordeão,
Luciano vocalista acumulando os ferrinhos – lançou para a pista os primeiros
acordes da Valsa do Imperador. As moças, expostas em duas filas de cadeiras à
volta da sala, ficaram aguardando o que lhes caberia em sorte, mas iam-se-lhes
os olhos e a curiosidade na figura do desconhecido, marinheiro de primeira
viagem à Sociedade Musical e Recreativa Clarinete de Prata, cinco escudos de
quota, os bailes mais animados de toda a zona de Xabregas.

Se já souberem de antemão o que vão encontrar neste livro (e lendo o que descrevi) talvez acabem por desfrutar mais do que eu. Não foi uma estreia brilhante mas prometo que não será a minha última leitura de Mário Zambujal – juro que gosto de ler coisas para rir – mas certamente que para a próxima lerei mais opiniões e resenhas antes de me aventurar numa obra do autor.

Leitura patrocinada pelo grupo Gang Di Bambini 🙂

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