Não é, de facto, a melhor altura a que estamos a viver agora. Mas tenho a dizer que quem não se pode queixar disto tudo são os meus livros; acho que nunca lhes dei tanta atenção como agora. E o mais interessante de tudo é que até a minha produtividade tem mostrado mais vontade de aparecer. Resultado disso, é esta review que hoje vos trago, do primeiro livro que li em 2020!
Contexto desta leitura: houve uma altura da minha vida adolescente em que me fartava de ler os romances da moda – Jodi Picoult, Dorothy Koomson, Leslie Pearse, Nora Roberts, vocês sabem. Isto tudo numa fase em que pouco ou nada me podia identificar com as personagens, que eram todas bem mais velhas e mais desenvolvidas do que eu. Agora que seria supostamente o momento perfeito para começar estas andanças, do alto dos meus quase 26 anos, falta-me a vontade para pegar neste tipo de livro. O universo é uma coisa complicada.
Mas como, ao contrário das outras autoras, a Jodi Picoult quase nunca me desiludiu, dou por mim às vezes a pensar se a moça não mereceria mais umas oportunidades. E desta vez até lhe dei o privilégio de iniciar o meu ano de leituras. Será que correu bem? Meh…
Já no estado onde se passa a história, New Hampshire (que está para Picoult como o Maine está para o Stephen King), a eutanásia é ainda ilegal, salvo raras excepções onde é da opinião médica que a hipótese de sobrevivência é muito diminuta. É esse o caso de Luke, o patriarca de família, que em virtude de um acidente de carro acaba em coma e com o destino nas mãos dos seus dois filhos.
O setup para a história está construído de forma quase perfeita, dois lados opostos com argumentos igualmente fortes e verosímeis. Cara, que vivia com o pai, tende para o lado emocional e defende que há vida enquanto há esperança. Já Edward, exilado há muitos anos devido a atritos desconhecidos com o pai, representa o racional, dando mais ouvidos à comunidade médica e aos factos.
Sendo ambas as partes bastante convincentes, das duas uma: ou a Jodi optava por um final aberto e relegava a decisão ideal para a imaginação do leitor (e depois todos reclamavam por causa do livro não ter conclusão) ou introduzia alguns trunfos na história que fizessem a balança tender mais para um dos lados. E foi exactamente esta segunda abordagem que ela felizmente decidiu seguir.
Desde o início do livro que Luke nos é caracterizado como alguém bem diferente do pai idílico – viciado no seu trabalho de estudo de alcateias, chega a abandonar a própria família durante longos períodos de tempo em detrimento dos lobos de quem cuida. Embora a maioria da narrativa seja feita do ponto de vista dos familiares, o livro é pontuado por memórias de Luke a falar de lobos. E a explicar coisas de lobos. E a contar aventuras com lobos. E a comparar pessoas a lobos e concluir que os lobos são melhores. Lobos, lobos, lobos.
Por amor de Cristo, digam-me que não fui a única pessoa a achar os capítulos do Luke aborrecidos? E olhem que eu não tenho nada contra lobos, pelo contrário; fui escuteira e até tenho muito carinho pelos animais do Livro da Selva, mas as constantes referências e metáforas entre os comportamentos lupinos e humanos pareceram-me demasiado forçadas e até erróneas. Aliás não fiquei nada surpreendida quando fui pesquisar e comecei a perceber que mais pessoas tinham levantado problemas com representação dos animais neste livro (leiam este artigo, por exemplo). Se há coisa pior do que não aprender nada com um livro, essa coisa é aprender coisas erradas. Claro que se trata de um livro de ficção e provavelmente não seja para ser levado tão a sério, mas nesse caso deviam ter sido cortadas algumas cenas, só para não haver confusões. Desculpem, lobos.
Concluindo…
“Lobo Solitário” está longe de ser dos meus livros preferidos da autora, principalmente pelos dois motivos já mencionados: acho que a investigação sobre os lobos poderia ter sido melhor conduzida e penso que se perdeu uma boa oportunidade para se entrar em debates mais aprofundados sobre a eutanásia e todos os desafios morais que acarreta. Não é um livro mau nem nada que se pareça, só não o vejo a ser um livro que alguma vez vá recomendar a alguém… há demasiados títulos melhores por aí.
Alguém já leu este livro e tem uma opinião parecida ou totalmente contrária? Partilhem comigo. E, claro, já que aqui estamos, digam-me qual o vosso livro preferido da autora! 🙂
Não li mas gostei da tua opinião sincera, fiquei com vontade de o ler
fantástico, obrigada! Força nisso 😀