Decidi voltar a ler Jodi Picout

[Review Com Spoilers]

Não é, de facto, a melhor altura a que estamos a viver agora. Mas tenho a dizer que quem não se pode queixar disto tudo são os meus livros; acho que nunca lhes dei tanta atenção como agora. E o mais interessante de tudo é que até a minha produtividade tem mostrado mais vontade de aparecer. Resultado disso, é esta review que hoje vos trago, do primeiro livro que li em 2020!

Contexto desta leitura: houve uma altura da minha vida adolescente em que me fartava de ler os romances da moda – Jodi Picoult, Dorothy Koomson, Leslie Pearse, Nora Roberts, vocês sabem. Isto tudo numa fase em que pouco ou nada me podia identificar com as personagens, que eram todas bem mais velhas e mais desenvolvidas do que eu. Agora que seria supostamente o momento perfeito para começar estas andanças, do alto dos meus quase 26 anos, falta-me a vontade para pegar neste tipo de livro. O universo é uma coisa complicada.

Mas como, ao contrário das outras autoras, a Jodi Picoult quase nunca me desiludiu, dou por mim às vezes a pensar se a moça não mereceria mais umas oportunidades. E desta vez até lhe dei o privilégio de iniciar o meu ano de leituras. Será que correu bem? Meh…

28929235. sy475  
“Luke Warren passou a vida inteira a estudar lobos. Chegou inclusivamente a viver com lobos durante longos períodos. Em muitos sentidos, Luke compreende melhor as dinâmicas da alcateia do que as da sua própria família. A mulher, Georgie, desistiu finalmente da solidão em que viviam e deixou-o. O filho, Edward, de vinte e quatro anos, fugiu há seis, deixando para trás uma relação destroçada com o pai. Recebe então um telefonema alarmante: Luke ficou gravemente ferido num acidente de automóvel com Cara, a irmã mais nova de Edward. […] Ele e Cara têm de decidir juntos o destino do pai. Não há respostas fáceis, e as perguntas são muitas: que segredos esconderam Edward e Cara um do outro? Haverá razões ocultas para deixarem o pai morrer… ou viver? Qual seria a vontade de Luke? Como podem os filhos tomar uma decisão destas num contexto de culpa, sofrimento, ou ambos? […]
“Lobo Solitário” foca-se na questão da eutanásia, um assunto popular há uns meses atrás devido à recente aprovação da proposta de despenalização da prática em Portugal. Fico muito contente por termos dado este passo, embora me custe compreender o porquê de a proposta ter aparecido tão tarde. Já é moralmente desafiante para um familiar ou mesmo para o próprio doente assumir que a morte é preferível à espécie de vida que leva, para que quereríamos trazer a justiça e a penalização ao barulho? Mas pronto, a coisa está em andamento, rejubilemos.

Já no estado onde se passa a história, New Hampshire (que está para Picoult como o Maine está para o Stephen King), a eutanásia é ainda ilegal, salvo raras excepções onde é da opinião médica que a hipótese de sobrevivência é muito diminuta. É esse o caso de Luke, o patriarca de família, que em virtude de um acidente de carro acaba em coma e com o destino nas mãos dos seus dois filhos.

O setup para a história está construído de forma quase perfeita, dois lados opostos com argumentos igualmente fortes e verosímeis. Cara, que vivia com o pai, tende para o lado emocional e defende que há vida enquanto há esperança. Já Edward, exilado há muitos anos devido a atritos desconhecidos com o pai, representa o racional, dando mais ouvidos à comunidade médica e aos factos.

 Montypython Draw GIF - Montypython Draw FleshWound GIFs

Sendo ambas as partes bastante convincentes, das duas uma: ou a Jodi optava por um final aberto e relegava a decisão ideal para a imaginação do leitor (e depois todos reclamavam por causa do livro não ter conclusão) ou introduzia alguns trunfos na história que fizessem a balança tender mais para um dos lados. E foi exactamente esta segunda abordagem que ela felizmente decidiu seguir.

Desde o início do livro que Luke nos é caracterizado como alguém bem diferente do pai idílico – viciado no seu trabalho de estudo de alcateias, chega a abandonar a própria família durante longos períodos de tempo em detrimento dos lobos de quem cuida. Embora a maioria da narrativa seja feita do ponto de vista dos familiares, o livro é pontuado por memórias de Luke a falar de lobos. E a explicar coisas de lobos. E a contar aventuras com lobos. E a comparar pessoas a lobos e concluir que os lobos são melhores. Lobos, lobos, lobos. 

Por amor de Cristo, digam-me que não fui a única pessoa a achar os capítulos do Luke aborrecidos? E olhem que eu não tenho nada contra lobos, pelo contrário; fui escuteira e até tenho muito carinho pelos animais do Livro da Selva, mas as constantes referências e metáforas entre os comportamentos lupinos e humanos pareceram-me demasiado forçadas e até erróneas. Aliás não fiquei nada surpreendida quando fui pesquisar e comecei a perceber que mais pessoas tinham levantado problemas com representação dos animais neste livro (leiam este artigo, por exemplo). Se há coisa pior do que não aprender nada com um livro, essa coisa é aprender coisas erradas. Claro que se trata de um livro de ficção e provavelmente não seja para ser levado tão a sério, mas nesse caso deviam ter sido cortadas algumas cenas, só para não haver confusões. Desculpem, lobos.

Sorry Im Sorry GIF - Sorry ImSorry Sad GIFs

Tirando esta situação, não tive problemas com mais nenhuns dos narradores do livro (filha, filho, ex-mulher, marido da ex-mulher, advogados, há de tudo) nem com o enredo, que se vai desenvolvendo a bom ritmo. Ou melhor, com a maioria do enredo
Como disse há uns parágrafos atrás, a balança teve de pender para um dos lados para o livro ter, de facto, uma conclusão. É perceptível para nós, como leitores, que Luke está muito longe de ser o pai ou o marido perfeito – às vezes nem chega a ser tolerável – mas achei que no final houve um excesso de vilanização do personagem desnecessário. Não que eu ache que o desvendar do mistério final tenha facilitado muuuuito a decisão dos irmãos – nunca será trivial para ninguém “condenar” um pai à morte, obviamente – mas temos de concordar que tira um bocado do peso da consciência, correcto?

Concluindo…

“Lobo Solitário” está longe de ser dos meus livros preferidos da autora, principalmente pelos dois motivos já mencionados: acho que a investigação sobre os lobos poderia ter sido melhor conduzida e penso que se perdeu uma boa oportunidade para se entrar em debates mais aprofundados sobre a eutanásia e todos os desafios morais que acarreta. Não é um livro mau nem nada que se pareça, só não o vejo a ser um livro que alguma vez vá recomendar a alguém… há demasiados títulos melhores por aí.

Alguém já leu este livro e tem uma opinião parecida ou totalmente contrária? Partilhem comigo. E, claro, já que aqui estamos, digam-me qual o vosso livro preferido da autora! 🙂

2 Comments

  1. Não li mas gostei da tua opinião sincera, fiquei com vontade de o ler

  2. fantástico, obrigada! Força nisso 😀

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *