É claro que a pandemia leva o prémio de maior desilusão de 2020, ninguém lhe tira esse demérito. Ao pé disso, qualquer outra coisa é imediatamente valorizada e ganha um outro encanto. Olhemos, por exemplo, para os livros de que menos gostei no ano passado. Nenhum deles pode ser considerado um livro péssimo ou ofensivo – aliás, se não fossem as malfadadas expectativas inflacionadas, qualquer um deles poderia ser categorizado como um livro decente. Vá, quase todos…
Em 2018 aproveitei uma grande promoção e comprei a trilogia Divergent em inglês e em capa dura. Já tinha ouvido opiniões menos positivas mas mesmo assim não perdi o interesse e segui para bingo. O primeiro livro não foi uma leitura brilhante (podem ler a minha opinião detalhada aqui) mas não me desencorajou de continuar a série. Antes tivesse. O segundo volume – Insurgent – é muito aborrecido e não acontece grande coisa durante a maioria das páginas, embora a revelação final me tenha apanhado de surpresa. Mas se no segundo não acontece nada, no terceiro acontecem coisas em demasia. Infelizmente praticamente nenhuma delas é boa ou estimulante. O entusiasmo com que entrei no terceiro livro foi desaparecendo tão abruptamente que a meio do livro só me apetecia gritar e atirar o livro pela janela. Não o fiz, sofri até ao fim, e até hoje não sei porquê. Uma série com potencial que infelizmente não funcionou para mim (funcionou para alguém?!).
No primeiro dia em que ouvi alguém falar bem deste livro (que penso ter sido no canal da Manganet), coloquei-o logo na minha wishlist do BookDepository mas fui adiando e adiando a compra porque, sinceramente, não sou uma pessoa de ler muitos thrillers. Este livro tem uma premissa bem intrigante – foi, aliás, o que me despertou o interesse logo à partida – e um final também ele surpreendente. O problema é o que está no meio. Não tem nada de intrinsecamente mau que eu possa apontar mas, infelizmente, incorre num cliché literário do género que eu não suporto: “ninguém acredita no protagonista“. É que o pobre do homem não tem apoio em lado nenhum – desde o polícia, ao advogado, ao melhor amigo, à mulher, ao próprio filho de quatro anos, ninguém acredita nele! Mas que raio de pessoas são estas de quem ele se rodeou, que o deixam abandonado aos porcos à primeira provação! Foi muito, muito, muito enervante de ler. Confesso que tive de ler passagens na diagonal. E o final não salva tudo.
Aproveitando o desafio lançado pela Dora e pela Sandra, passei boa parte do ano passado a ler e a reler livros da Jodi Picoult. Alguns satisfizeram-me, outros nem tanto. “Tudo por Amor” foi uma das releituras pelas quais eu estava menos excitada para fazer por me lembrar que a primeira experiência (já lá iam uns anos) ter sido bem decepcionante. Infelizmente, a segunda não foi diferente. Não é de todo um mau romance, consigo perceber porque é que tanta gente gosta dele. Mas há duas coisas na história que me deixam exaurida; primeiro, a sinopse parece indicar que se trata de um livro sobre abuso sexual infantil mas a meio muda parcialmente o foco e temos de andar a seguir a luta de tribunal por causa de um crime da protagonista. E eu estava-me pouco lixando para ela. Segundo, o mistério que envolve o abuso do Nathaniel é muito rebuscado, dão-se muitas voltas e pistas convenientemente ambíguas para que não se tenha certezas de nada até ao final. E eu acho isso forçado. Para mim é, infelizmente, um dos livros mais fracos desta prolífica autora.
Uma das coisas boas de frequentar localidades recônditas como é a Mêda (na altura em que ainda se podia vaguear por aí) é que depois se encontram boas pérolas nas papelarias da zona, como determinados livros da extinta editora Civilização que já se encontram esgotados nas livrarias. Eu sabia que “As Filhas de Eva” era um desses livros que andava a ser falado por aí mas que era já quase impossível de comprar em primeira mão por isso, quando o vi, nem hesitei em comprar. Posso dizer que ficou aquém das expectativas, e elas já eram baixas. Trata-se de uma distopia mais direccionada para um público YA (jovem adulto) onde num mundo alternativo as mulheres são praticamente desenhadas com as medidas certas para ficarem perfeitas e serem escolhidas, quando atingirem a maioridade, pelos jovens homens da sociedade. Achei que a escrita era muito pouco trabalhada (poderá ser culpa da tradução?) e que a ideia e o desenvolvimento da história foram avançando sem grande profundidade ou relevância. Percebo que o objectivo seja transmitir que a própria protagonista esteja já tão embrenhada no sistema que a superficialidade e a falta de personalidade acabe por ser a característica mais predominante destas bonecas, mas para mim não foi suficiente. Uma leitura demasiado leve e vazia que dificilmente me ficará na memória.
Esta foi uma das leituras mais dolorosas do ano, tanto é que já me tinha obrigado a esquecer de que o tinha lido sequer. Na minha opinião – e alguns decerto concordarão, livros que pertencem a uma série não devem ser classificados apenas com base na história do livro em questão, sem tecer comparações ou ligações aos predecessores. Não me parece fazer sentido. Portanto, por muito tolerável e bem-estruturada que a trama de “A Rapariga que viveu duas vezes” tivesse sido (que acho que não foi propriamente), nunca na minha vida poderia desfrutar dela sem ter em conta o que ela devia representar: o grande final da série Millennium. Esta foi a primeira série criminal adulta que li e a Lisbeth é a minha personagem literária preferida até hoje, por isso, posso dizer que a Millenium teve um papel de destaque no meu humilde percurso. E por isso custa-me a aceitar que esta amostra de livro represente a última vez que vou ouvir falar de personagens que me são tão queridas. Dizer que o final é decepcionante é quase um elogio comparado aos os verdadeiros sentimentos que se me acometem quando penso nele e que não consigo exprimir em palavras. Apetece-me chorar.
Alguns destes títulos irei colocar à venda tanto no OLX como no TradeStories, por isso, fiquem atentos por lá no caso de algum deles vos interessar. Também estou aberta a trocas, contactem-me à vontade.
E assim damos por terminadas as hostilidades relativas a 2020. Sai, demónio, volta para o buraco de onde vieste e deixa-te lá ficar. A gente precisa de um bocado de paz, agora. Ámen.
Olá! Não podia deixar de comentar este teu post porque também eu tenho um ódio de estimação às Filhas de Eva (e a linguagem pobre não é culpa da tradução!) e também eu adoro a Lisbeth Salander e odiei a continuação da história quando morreu o Stieg Larson e o David pegou na personagem (nunca consegui acabar o primeiro livro do David). Dito isto adorava ter o link do teu perfil no TradeStories, as tuas estantes parecem interessantes 🙂 podes partilhar?
Olá Sílvia!
Eu até tolerei bem o primeiro livro do David, mas os últimos dois parece que foram escritos à pressa e sem qualquer tentativa de esforço, é quase um insulto a nós, os fãs da série original 🙁
Ora, quanto ao meu TradeStories, actualmente ainda não tenho nada à venda porque por causa do confinamento não posso estar ao pé dos livros que quero vender, e por isso não posso tirar fotos nem fazer envios :@
Prometo partilhar aqui quando tiver esse assunto tratado! 🙂
Divergente foi a saga que mais me desiludiu :/
Eu já ia com poucas expectativas e mesmo assim desiludi-me x) Foi uma série que teve o seu tempo, hoje em dia já nem se ouve ninguém falar disto, praticamente