Não sou supersticiosa mas Deus queira que a primeira leitura do ano não paute em nada a qualidade dos doze meses vindouros, porque se assim for dou já meia volta.
Deixem-me começar pelo início. Houve uma altura da minha vida em que vivia obcecada em ler maioritariamente três categorias de livros – Holocausto, relatos verídicos de pessoas maltratadas na infância e thrillers religiosos. E tanto li que me fartei, tendo-se já passado uns bons anos desde a última vez que me aventurei por essas vertentes. Por isso admito que quando o meu pai me emprestou este livro (gesto normalmente acompanhado por um quase orgulho de ter pago uma pechincha por ele no Continente), o entusiasmo era pouco e as expectativas eram diminutas. O que torna ainda mais incrível o facto de, ainda assim, me ter desiludido.
A premissa é bem intrigante e foi ela em grande parte a grande instigadora para que eu acabasse por ceder e pegar no livro. Mas é também o que considero uma premissa armadilha pois é tão peculiar que ou o desfecho é muito bem executado e ficamos satisfeitos ou então é uma banhada. Infelizmente, Tom Fox resvalou para a segunda opção.
E, atenção, eu sou uma ávida consumidora de Stephen King e, como tal, estou mais do que habituada a finais decepcionantes. Mas pelo menos nesses livros tenho o prazer de ler uma restante narrativa sólida, bem estruturada e bem desenvolvida.
“Dominus” peca (eh eh) em demasiados aspectos. A acção é, durante boa parte da história, bem lenta e dispersa, e protagonizada por personagens ou demasiado rasas ou demasiado clichés – não há nada que me faça lembrar os seus nomes daqui a um par de semanas. E mesmo quando nos capítulos finais o enredo ganha algum ritmo, é tudo tão desnecessariamente frenético e violento (e inverosímil) que já só desejamos voltar à monotonia do início onde pelo menos percebíamos o que raio se está a passar. Não há um bom equilíbrio.
Uma das minhas esperanças para com este livro era de que poderia aprender alguma coisa de novo sobre a Igreja ou o Vaticano, tendo em conta que o autor é descrito como um “conhecedor profundo dos meandros do Cristianismo”. Acredito que sim mas então deve ter guardado o conhecimento todo para ele mesmo porque para este lado não passou nada. Não há referências a nomes ou acontecimentos verídicos dignos de nota (se estiverem ficcionados ou sobre “pseudónimos” então estão muito bem disfarçados porque não apanhei as ligações), e mesmo o Vaticano como Estado está muito pobremente representado neste romance.
Posto isto, a conclusão da história era a única coisa que ainda poderia salvar o livro, fazendo dele pelo menos um bom mistério. Infelizmente, como mencionado, até nisso somos deixados na mão, pois respostas às questões fulcrais são escassas e as resoluções são todas atabalhoadas. E eu por norma não tenho problemas nenhuns com finais abertos mas este foi um final escancarado e uma machadada final num enredo que já lutava para sobreviver.
Para terminar de forma positiva, deixo um louvor de apreciação à escrita do autor (e consequentemente à tradução) por ser bem fluída e linguisticamente rica. Aprecio muito quando os escritores me fazem relembrar vocabulário que passo anos sem ouvir e que aos poucos me vão desaparecendo do léxico. Não é assim tão comum acontecer neste género e, nesse teste, Tom Fox passa com distinção.
Portanto, não me sinto capaz de recomendar este livro. A fãs do género não lhes vai acrescentar nada e aos estreantes quando muito são capazes de ficar com uma má primeira impressão. Leiam se não tiverem mesmo mais nada em que pegar; se não for o caso, passem ao próximo.
Olvidável e decepcionante, assim foi a minha primeira leitura de 2023. Oh, happy new year (e obrigada, pai)…
O que significará a vinda deste estranho, e será que ela conduzirá ao fim dos dias?
A catedral do Vaticano tem a sua lotação completamente esgotada, num dia em que o Papa Gregório XVII celebra uma missa. Um estranho encapuzado dirige-se rápida e temerariamente na direção do altar e ordena ao Papa, que depende de uma cadeira de rodas para se movimentar, que se erga.
O Papa ergue-se.
O milagre deixa o mundo siderado. Quem é este estranho com tanto poder sobre o Papa?
À medida que mais milagres acontecem e que o Vaticano encerra as suas portas ao mundo por questões de segurança, a agente policial Gabriella Fierro e o jornalista Alexander Trecchio embarcam numa investigação perigosa para encontrar uma explicação que acalme uma nação que se encontra à beira da histeria.
Dominus é um thriller cheio de ação e reviravoltas, com um mistério intrigante na sua raiz, e que garantidamente nos vai fazer virar as páginas a uma velocidade furiosa desde a deslumbrante sequência inicial até ao impressionante final.