Murakami não é um escritor consensual e é preciso um certo estado de espírito para embarcar numa das suas obras, isto na minha limitada opinião (e já me odeio por ser uma destas pessoas que diz que é preciso X para se gostar de certo livro, mas é verdade). Antes deste tinha apenas lido Norwegian Wood, talvez um dos títulos mais conhecidos mas também dos que mais divide opiniões; uns aclamam, outros problematizam. Eu fiquei ali pelo meio, não adorei nem detestei – na verdade fiquei só um pouco desconcertada e reticente em relação a futuras leituras deste autor japonês.
Começando pelo fim, é difícil dizer se recomendo este livro ou não. A verdade é que gostei imenso da leitura – bem mais do que estava à espera – mas é um género tão específico que só quem esteja disposto a ativar a suspensão da descrença é que conseguirá divertir-se com a história. Não será nada de transcendente para quem já tem experiência com realismo mágico. Eu nunca tinha lido nada do género e penso que Murakami tenha vindo despertar em mim esse gosto por esse território ainda inexplorado. Só por isso já valeu a pena a incursão. Se desse lado já tiverem lido o livro, ou o autor, digam qualquer coisa, estou genuinamente curiosa com a opinião de outra malta.
“Em busca do Carneiro Selvagem” foi dos primeiros livros escritos por Murakami e na verdade encerra a série “A Trilogia do Rato” – que penso não estar toda traduzida em português – embora não requeira leitura dos primeiros volumes. Há personagens passageiras que certamente serão protagonistas nesses outros livros mas os círculos que se abrem nesta obra são maioritariamente concluídos também. O que a sinopse promete é o que a história entrega, com a adenda de uma escrita bem humorada (não humorística) e meio eclética em termos de estilo; por vezes é demasiado direta ao ponto e por outras demora-se em diálogos e interações inverosímeis que só poderiam existir num romance de ficção (e que me parece ser uma marca estilística do próprio autor). Em outros livros essa contradição poderia ter-me incomodado mas neste exemplo coaduna-se com a história e não me soou tão falso. Eis a importância de irmos de mente aberta para novas experiências.
Se “Norwegian Wood” me tinha deixado algo confusa, este título veio convencer-me que Murakami é de facto um nome especial na literatura contemporânea que não posso continuar a ignorar. Este livro seria a minha recomendação para estreantes do autor, sempre com a ressalva de que estamos no campo do realismo mágico onde realidade e fantasia se encontram num lugar comum.
Se tiverem o mínimo de curiosidade, arrisquem e tirem as vossas conclusões. Confesso que estou ainda muito verde no que toca a Murakami por isso recomendo que procurem também opiniões de outros leitores mais versados no tema que eu. Foi o que eu própria fiz também. A minha próxima paragem será, em princípio, “Sputnik, meu amor“, talvez o mais recomendado por fãs da bibliografia do autor. Sei que fora do normal será de certeza, já é apanágio.
Ambientado numa atmosfera japonesa, mas com um pé no noir americano, Murakami tece uma história detectivesca onde a realidade é palpável, dura e fria, e seria a verdade de qualquer um, não fosse um leve pormenor: é uma realidade absolutamente fantástica. Um publicitário divorciado, que tem um caso com uma rapariga de orelhas fascinantes, vê-se envolvido, graças a uma fotografia publicitária, numa trama inesperada: alguém quer que ele encontre um carneiro! Mas não é um carneiro qualquer. É um animal que pode mudar o rumo da história. Um carneiro sobrenatural…
Murakami dá a esta estranha história um tom que só um oriental pode imprimir a uma crença, fazendo-a figurar como um facto da realidade. Coloca, de uma forma genial, a fantasia na aridez do mundo real.