His and Hers – um bom thriller para as férias

A narradora alcoólica e portanto não confiável. O polícia que tem uma secreta ligação à vítima. A vilã adolescente com traços de sociopatia ou simples malvadez. As divagações ambíguas de um narrador anónimo de género indistinto. Este livro dava para preencher um cartão de bingo de clichés de thrillers mas, ainda assim, gostei imenso dele.

Numa pacata vila inglesa acontece algo muito atípico: um assassinato. Tal ocorrência atrai não só o inspector local, Jack Harper, mas também uma repórter recentemente despromovida, Anna Andrews. Embora a sua relação com o crime seja inicialmente de mero desinteresse, a curiosidade e o medo vão aumentando à medida que se torna óbvio que existe uma conexão entre o crime e o passado de ambos – o que significa que qualquer um deles pode estar em risco.

Superficialmente parece uma sinopse bastante insossa mas qualquer detalhe mais poderia estragar-vos a história. Acho que estou a fazer um mau trabalho a vender-vos o livro, mas leiam até ao fim. Os capítulos são narrados na primeira pessoa alternadamente entre o Jack e a Anna que frequentemente têm versões e opiniões diversas sobre as revelações que vão surgindo durante a investigação (suponho que seja daí que vem o título do livro, “His and Hers“). Esse é sem dúvida um dos pontos fortes do livro pois assim que começamos a formar teorias elas são quase que imediatamente deitadas por terra assim que trocamos capítulos, uma vez que eles surgem quase sempre em sequência temporal do anterior.

Não é difícil prever o final, parece-me mesmo intencional da autora ir deixando algumas pistas para o leitor. E por muito que eu goste de Agatha Christie e narrativas em que o volte-face vem do ar, também gosto de ser capaz de desvendar mistérios por mim mesma em vez de ser sempre surpreendida por um final que nunca se conseguiria prever porque nenhum dado apontou nesse sentido. Faz-me sentir inteligente e agradeço à autora Alice Feeney essa generosidade.

É uma leitura viciante, original e até com algum peso emocional porque por um lado desejamos que as vítimas sofram, sim, mas por outro torcemos para que os protagonistas se entendam de uma vez e caiam nos braços um do outro (ou então isso fui só eu, não sei. Não me posso alongar muito mais sobre isto). A obra para mim só não é perfeita porque a motivação para o crime foi muito unidimensional e exageradamente cruel. O vilão é aquela clássica personagem de cartoon cuja única característica é apenas ser malvada e aterrorizar o protagonista, não vá o espectador ter dúvidas sobre quem é o verdadeiro herói da trama. Gostava de ter visto um móbil mais ardiloso e justificado e não algo tão infantil e subdesenvolvido como foi. Mas, ainda assim, é um thriller de alta qualidade, e já ouvi grandes coisas de outro livro da autora, “Sometimes I Lie“, por isso parece-me que Alice Feeney é um nome que devemos manter debaixo de olho.

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