Apesar de ter criado este blog recentemente, já ando nisto dos blogs e canais literários há alguns anos, e uma das coisas que notei é que pouco se fala dos livros do Ken Follett. E aposto que todos nós – seres que não vivem em charnecas isoladas – já ouvimos falar do nome dele. Afinal, com mais de 30 livros publicados, vários deles best-sellers, Ken Follett é um dos mais conhecidos autores de thrillers e romances históricos da actualidade.
A Editorial Presença tem publicado os livros dele nos últimos anos, o que pode ter levado ao pensamento erróneo de que todos eles são recentes. Foi com alguma surpresa que eu constatei, por exemplo, que “Os Pilares da Terra” foi escrito em 1989 e que “O Homem de São Petersburgo” data ainda mais longe, a 1982. Portanto, não se deixem enganar. Apesar de ter sido publicado em Portugal há coisa de dois anos, o livro em análise aqui é, na verdade, um dos trabalhos mais antigos do autor.
Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra prepara a defesa contra o Império Alemão. Ambos os oponentes precisam de se aliar à Rússia. O príncipe Orlof, sobrinho do czar Nicolau II, viaja para Londres, onde se encontra com Lorde Walden, casado com a sua tia Lydia. O anarquista russo Kschessinky segue-lhe no encalço.
Nesta intrincada trama de interesses pessoais e políticos, ninguém prevê que Lydia reconheça Kschessinky, colocando em perigo a vida da sua filha Charlotte. Estas personagens jogam com o destino da Europa na antecâmara de um dos mais devastadores conflitos de sempre.
Já não me lembro como é que descobri o livro “Os Pilares da Terra“; lembro-me de o ter lido e ter gostado bastante, e é tudo. Desde então que prometi a mim mesma que iria, mais tarde ou mais cedo, ler a bibliografia completa do Ken Follett.
Infelizmente, essa jornada não começou da melhor maneira; no ano seguinte, ofereceram-me o “Uma Terra Chamada Liberdade” e, valha-me Deus, foi uma das maiores desilusões que já sofri na vida. Demos todos graças ao Senhor por eu ainda não criado o blog nessa altura porque não existiriam data centers suficientes no mundo para suportar a quantidade de palavras que eu precisava de exteriorizar nessa altura. Credo.
‘O Homem de São Petersburgo‘ foi bem mais condescendente para com a minha saúde mental. Há já algum tempo que não lia romances históricos e esta prenda veio mesmo a calhar nos finais de 2017. Melhor que isso é o facto de este ser o primeiro romance histórico que leio sobre a Primeira Guerra Mundial.
É verdade, o Holocausto e os crimes associados à Segunda Guerra Mundial ofuscam (e com alguma razão) o grande conflito que foi a Primeira Grande Guerra, que acaba por ficar meio esquecida na confusão de acontecimentos que foi o início do século XX. Mas, caramba, estamos a falar da primeira guerra MUNDIAL! Até Portugal, tão grande na sua insignificância, fez questão de participar no evento! Quase de um momento para o outro, estavam dezenas de países engatados à porrada e envolvidos numa guerra que, até hoje, ninguém sabe com 100% de certeza como foi desencadeada.
‘O Homem de São Petersburgo’ é competente a desenvolver a história a que se propõe. Neste pequeno livro seguimos a versão ficcionada do que teriam sido as primeiras negociações entre a Inglaterra e a Rússia antes do despoletar da guerra, quando a Alemanha já começava a disparatar pela Europa. Ciente de que não detém poder militar suficiente para fazer frente ao Kaiser, a Grã-Bretanha tenta a aliança com um dos países europeus mais poderosos na altura: ‘O General Inverno’, a Mother Russia do czar Nicolau II.
Apesar de termos referências a verdadeiras figuras históricas – Winston Churchill, Lloyd George, H.H. Asquith, etc – poucos outros factos podem ser retirados do romance. Mesmo depois de algumas pesquisas, o mais perto que estive de encontrar uma referência a um Príncipe Orlov (sim, o raio da sinopse conseguiu errar o nome do homem) foi o ‘Fat Orlov‘, conselheiro de Nicolau II, uma figura bem diferente em aparência do jovem belo que é introduzido na história. Uma correspondência mais acertada seria o Prince Andrei, o sobrinho mais velho do czar que andou, de facto, a passear pela Europa na mesma altura. Who knows.
No fundo, a intenção deste romance não é descrever de forma exacta o ambiente político da Inglaterra pré-guerra. Sendo escritor de thrillers, parece-me a mim que Ken Follett tentou mais uma misturada de thriller com um romance histórico. E o resultado final está longe de ser mau.
De forma resumida, o que é que temos neste livro? Um príncipe russo que vem para Inglaterra negociar com o governo britânico, representado pelo Lord Walden, uma possível aliança bélica entre as duas potências. Nos bastidores, um anarquista russo, Feliks, descobre a vinda do príncipe e toma a decisão de salvar os compatriotas soviéticos de mais uma guerra desnecessária da única maneira possível: matando o príncipe e deixando Nicolau II muito chateado.
Mesmo tratando-se de um livro pequeno, foi fácil para mim afeiçoar-me às personagens. Feliks, apesar de fictício, é um gajo com quem criamos empatia; a vítima de um país parado no tempo que procura pelos seus próprios meios evitar a ida de milhões de jovens russos para uma guerra que pouco bem lhes traria. Charlotte, a rapariga aristocrata e princesa da Disney que ‘sonha com algo mais e com alguém que a compreenda‘ é surpreendentemente mais likable do que eu poderia esperar. Até o Lord Walden vai ganhando o nosso afecto à medida que a história se desenrola e nos vamos apercebendo do buraco para onde a vida a dele está a caminhar.
Se gostam de romances históricos, não têm nada a perder com este. Como já mencionei, não é particularmente rico em história, mas tem o suficiente para nos aguçar o interesse e nos fazer querer pesquisar mais sobre certos assuntos.
Se gostam de thrillers mas não tanto de história, talvez este não seja um livro apropriado para vocês. Apesar da narrativa das perseguições e do mistério estar bem feita, não é nada particularmente brilhante. Para ser sincera, o jogo do gato e do rato começou a ficar cansativo a partir de certo ponto. Não o suficiente para deixar o livro aborrecido, apenas menos interessante. Situação essa que não foi apoiada pelo facto de os capítulos serem demasiado extensos (detesto).
Tratando-se de um romance histórico, é difícil dizer que o final é surpreendente para alguém. Por esta altura, já toda a gente aprendeu na escola que a Rússia lutou ao lado dos Aliados, certo? No entanto, tratando-se de um livro com alguma ficção… pode ser que tenham uma surpresa.
Não é um livro memorável mas é com certeza um livro que aconselho aos fãs de romances históricos que pouco ou nada tenham lido sobre esse conflito esquecido que é a Guerra das Trincheiras.
Se é um dos melhores livros do Ken Follett? Voltem a perguntar-me daqui a uns anos quando já tiver amostras suficientes que me permitam ditar a sentença.
Deixem-me ainda aproveitar para publicitar um novo projecto literário para 2018, o ‘Lembrando a Grande Guerra‘. Organizado pela Catarina e pela Chris dos blogs Sede de Infinito e Diário da Chris, este projecto tem o intuito de celebrar o primeiro centenário do fim da Primeira Guerra Mundial com a leitura de livros e visualização de filmes, séries e documentários relacionados com a temática.
Cliquem na imagem abaixo e fiquem a conhecer melhor o projecto. Quem sabe, até podem começar já a participar com “O Homem de São Petersburgo”! Eu cá tenho em mente ir pegar no “A Queda dos Gigantes“.
See you next time!
SPOILER RANT!
Alguém me consegue explicar por que diabo é que a sinopse tem em destaque a afirmação “Ele tinha por missão matar… Mas acabou por mudar o rumo da História.” quando não foi alterada coisa nenhuma? O rumo original era a Rússia aliar-se à Inglaterra e entrar na guerra, e o resultado final foi… a Rússia aliar-se e entrar na guerra! So… what? A missão foi bem sucedida, de facto, mas, in the end, não foi alterada porra nenhuma. O que só por si é já um grande mistério! O czar devia estar de MUITO bom humor quando recebeu a notícia da morte do sobrinho… Anyway, who cares, right?
Oi Mariana. Sempre vi este livro por aí nas livrarias e pensava realmente que era mais thriller do que livro histórico. Também não sabia que se focava na I guerra mundial. Este ano estou a fazer um projecto focado nesse período histórico (#lembrandograndeguerra) por isso a tua opinião deste livro aguçou-me a curiosidade 😀 bjs e boas leituras
Olá Catarina 🙂
Eu bem me parecia que me tinha esquecido de alguma coisa. Cheguei a apontar algures para mencionar o vosso projecto mas depois varreu-se-me x) Já actualizei o post!
Este livro já foi lido em 2017 mas tenho aqui em casa "A Queda dos Gigantes", também do KF, onde a WWI tem ainda mais destaque! Por isso, contem comigo 😀
beijinhos!
Não faz mal claro 🙂 Mas muito obrigada então pela divulgação.
Também tenho o "Queda dos gigantes" na estante e ando a considerar lê-lo para o projecto mas ainda não sei bem 😀
Ora essa 🙂
É um livro que quero muito ler este ano e acho que é o único que tenho com a temática da WWI. Junta-se o útil ao agradável 😀