Com
treze anos, Harry Potter já não é mais
o garoto maltratado que conhecemos há dois anos debaixo do vão das escadas dos Dursley. Ou melhor, risquem o maltratado, isso não muda… Mas responder mal (pior?) aos tios, insuflar tias, fugir de casa, atacar professores e potenciais assassinos, os sinais estão todos lá: Harry Potter é agora
um pré-adolescente e não há volta a dar.
E não são apenas as personagens que ‘sofrem’ um amadurecimento; aranhas gigantes, basiliscos e plantas zangadas parecem agora insignificantes quando comparadas ao terror psicológico infligido pelos Dementors ou mesmo só pelo facto de andar um prisioneiro perigoso à solta – um prisioneiro que consegue, sem grandes surpresas, entrar em Hogwarts.
Sim, porque o axioma “Hogwarts é o lugar mais seguro à face de Terra” é colocado à prova mais uma vez. Depois de um troll e de uma cobra que paralisa pessoas terem feito o seu teatro no primeiro e no segundo ano, temos agora um assassino condenado a entrar no dormitório de jovens de 13 anos sem ninguém dar por ele! Incrível. O Bairro Quinta da Fonte parece mais seguro que aquela escola, neste momento. Eu sei que custa mas é altura dos feiticeiros abrirem os olhos e mandarem essa reza juntar-se ao “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” e a todos os outros dogmas que são actualmente desacreditados. Let it go, people.
Numa nota mais suave, é neste livro que somos apresentados a novas personagens que serão muito importantes não só para a série em si mas para o próprio Harry como personagem. Sirius Black, o erroneamente proclamado servo de Voldemort, revela-se o padrinho do protagonista e, consequentemente, o seu único ‘familiar’ conhecido. Não só ele mas também Remus Lupin, um dos melhores professores da escola, constituirão ambos a figura paterna que Harry nunca conheceu.
E, claro, com novas disciplinas conhecemos novos professores, como o professor Bambo lá do sítio – ou professora Trelawney – que será importantíssima nos livros vindouros, e… hãn… Hagrid?
Exacto, estranhamente, Hagrid é promovido pelo Dumbledore a professor de Cuidados com as Criaturas Mágicas apesar de apresentar, até ao momento, muito poucas evidências de ser uma pessoa apta a desempenhar o posto. O homem nem é suposto ter varinha, por amor de Deus! Ninguém duvida que ele tenha o conhecimento mas quem é que acha ponderado deixar um meio-gigante lidar com monstros e jovens feiticeiros depois de ter arranjado problemas com um dragão, um cão de três cabeças e uma aranha gigante, tudo no espaço de dois anos! As benesses de ser brother do director, I guess.
Mesmo gostando mais deste livro do que dos seus predecessores, não posso afirmar que seja um livro perfeito. À semelhança de ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’, o livro não é muito grande e a leitura não é de todo aborrecida, mas o final parece desenrolar-se meio abruptamente. Em poucas páginas temos viagens no tempo, lutas com salgueiros, plot twists, salvamentos de hipogrifos e de prisioneiros, lobisomens a atacar, Dementors a atacar, ratos a fugir e sabe Deus que mais.
Claro que no meio de tanto acontecimento repentino há cenas que acabam por ficar a desejar. Por exemplo, a reunião entre o Harry e o seu recém-descoberto padrinho é demasiado breve e superficial. Estes gajos acabam de se conhecer e já estão a falar em ir viver juntos e felizes para sempre, qual casal que se conhece na Casa dos Segredos. É feito meio a despachar numa tentativa de criar uma relação que não teve tempo suficiente para se estabelecer ou sequer para se desenvolver. Gosto muito do Sirius, atenção, mas este diálogo… nã.
Não se pode falar de ‘Prisioneiro de Azkaban’ sem mencionar o ‘elefant in the room‘ que é a existência do Vira-Tempo. Eu não desgostei particularmente do papel que as viagens no tempo tiveram no livro mas não posso negar toda a panóplia de questões que se impõem depois de me dizerem que é possível reverter o tempo no mundo dos feiticeiros.
Se uma miúda de treze anos pode usar um Vira-Tempo para não faltar a aulas por que é que nunca se ponderou voltar atrás no tempo para salvar os pais do Harry (e o próprio Harry)? Ou para tentar matar o próprio Voldemort? Agora sabemos que seria impossível devido às Horcruxes, mas naquela altura isso era desconhecido. E mesmo que não fosse, podiam simplesmente amarrá-lo a uma árvore e deixá-lo lá ficar; com certeza faria muito menos estragos. Sure, a J.K. Rowling bem tentou pôr um ponto final no assunto ao destruir todos os Vira-Tempo no quinto livro, mas alguém acredita mesmo nisso? Quer dizer, basta olhar para ‘Harry Potter and the Cursed Child‘ para perceber que isso não resolveu nada.
Inserir viagens no tempo neste universo foi, na minha opinião, uma escolha infeliz, mas não vou mentir e dizer que me incomodou ou que perturbou a minha experiência de leitura.
Há, no entanto, uma coisa que me incomoda mais do que o Vira-Tempo, que é o Mapa do Salteador (ou Marauder’s Map). É impressão minha ou é-nos explicado muito pouco sobre como é que este objecto funciona? E como é que quatro alunos de uma escola conseguem criar uma coisa tão poderosa? Por que é que não há mais mapas do género? Caramba, se o Dumbledore tivesse tido um mapa daqueles só precisava de 2 minutos para lançar o alarme de que o Peter Pettigrew (e posteriormente o Barty Crouch) andava a passear pelo castelo! Montes de problemas evitados! E já agora, por que não expandir o Mapa para abranger toda a cidade de Londres? Passaria a ser bem mais simples descobrir os esconderijos do Voldemort e dos Devoradores da Morte. Digo eu, assim de repente… Pisses me off.
Claro que todos estes nitpickings são irrelevantes para o meu deleite final. A série continua tão ou mais cativante do que quando começou. A autora não nos ‘enche o saco‘ com informações sobre o mundo da magia, pelo contrário, pequenos detalhes vão sendo introduzidos ao longo dos livros pela boca do Ron Weasley ou de outros personagens que cresceram fora do mundo Muggle, o que torna tudo mais interessante – enquanto leitores, vamos tomando conhecimento dos factos ao mesmo tempo que o protagonista. E mesmo cenas como as aulas ou os jogos de Quidditch, que apesar de interessantes poderiam facilmente tornar-se maçadoras, não são excessivamente descritas e não cansam.
Mesmo tratando-se de um livro de ficção não é difícil encontrar paralelos entre o mundo mágico e o nosso mundo contemporâneo, desde o tédio e o stress dos alunos para ‘vingar’ nos seus estudos ao preconceito para com o professor que é ‘diferente’ e até a incompetência e jogos de poder que começam a surgir dentro do Ministério da Magia.
Um livro de Harry Potter nunca é ‘só’ um livro de Harry Potter. Os que ainda acham que vão encontrar neste livro só mais uma história infantil banal para entreter gaiatos é muito provável que se venham a surpreender no fim. Para os que já gostaram dos dois primeiros volumes, com certeza não se vão desiludir com este. O separar das águas está feito e, a partir de agora, as aulas e a escola já não serão mais a preocupação primária do nosso jovem Harry…
NOTA FINAL
Nesta review falei de um amadurecimento das personagens principais, o que talvez tenha sido um pouco precipitado da minha parte. À semelhança do que acontece in the real life, idade nem sempre é sinal de amadurecimento. Deixo-vos com um excerto do livro, do qual podem tirar as vossas próprias conclusões:
E VOCÊS, qual é o livro da série que gostam mais? Partilham das minhas opiniões relativas a “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”? Sim, não? É só deixar um comentário aqui em baixo!
See you next time! 🙂
OUTRAS OPINIÕES
Estou mortinha para o Príncipe ter idade e lhe começar a ler HP 😀
Beijinhos,
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Esperemos que ele fique fã! Há-de ficar, se tiver bom gosto 😀