Leituras #7 – Harry Potter e a Câmara dos Segredos – J.K.Rowling

[Esta review contém spoilers do livro e da série]

Eu sei que boa parte de vós já está careca de ler reviews e discussões sobre os livros de Harry Potter mas seria uma falha muito grande da minha parte ter um blog literário onde não escrevo nada sobre a série que mais marcou a minha infância e pré-adolescência. 
É difícil de acreditar, mas o livro “Harry Potter e a Câmara dos Segredos” já caminha para os 20 anos de existência! É verdade, foi a 2 de Julho de 1998 que esta preciosidade chegou às prateleiras britânicas e se comprovou que a J.K.Rowling não tinha tido um golpe de sorte com o primeiro volume; a mulher tinha criatividade e qualidade a escrever, e a série de feiticeiros tinha vindo para ficar. Não que eu na altura me tivesse apercebido disto tudo, obviamente. No auge dos meus 4 anos de idade, estava mais preocupada em perceber se aquele ente que tinha aparecido em minha casa (também conhecido como minha irmã) iria ser uma ameaça à quantidade de atenção e de presentes que até então eu recebia no Natal ( spoiler, foi ).
Quinze anos, mais coisa menos coisa, depois de ter lido o livro pela primeira vez, dou por mim, em 2017, a ler a história em inglês pela primeira vez. Continuo a usar as edições comemorativas da Bloomsbury, em paperback, que já tinha usado para ler “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. Já agora, se não leram a minha review do primeiro livro, faz favor de clicar AQUI e ir ler também. 
Sinopse
Harry Potter está ansioso por ver terminadas as medonhas férias de Verão que está a passar com os Dursleys, os Muggles mais Muggles de todo o planeta. Mas o tempo parece ter adormecido, ou então está com muita preguiça, porque nunca mais passa. Entretanto surge uma visita inesperada – uma estranha criatura de grandes olhos verdes e enormes orelhas, o elfo Dobby, que traz um sério e terrível aviso : HARRY POTTER NÃO DEVE VOLTAR PARA HOGWARTS. 
E a verdade é que no seu segundo ano na escola de feitiçaria, Harry vê-se envolvido numa terrível espiral de perigos e desventuras. Vozes horripilantes sussuram, vindas das paredes; algo ou alguém anda a transformar os alunos em pedra; aparecem fantasmas tenebrosos e aranhas gigantes; e um dia um misterioso aviso é escrito em letras brilhantes numa parede de Hogwarts: A CÂMARA DOS SEGREDOS FOI ABERTA. INIMIGOS DO HERDEIRO, CUIDADO.
Mas o que isto significa? Harry Potter, Ron e Hermione vão fazer tudo para resolver este mistério, arriscando as suas próprias vidas.
Se eu já achei a capa do primeiro intrigante, não sei bem o que dizer desta. Não pela arte em si (e mesmo assim, que raio de cara é aquela?) mas pelo MAJOR SPOILER que mostra em grande destaque. O foco principal do livro está em descobrir quem diabos é o monstro que anda a aterrorizar a escola, um mistério que só se vem a desvendar lá para o fim do livro graças a mais um raciocínio brilhante da Hermione. Mas a Bloomsbury está nem aí para spoilers, vamos espetar com o Basilisco mesmo na capa porque fica fixe e porque podemos. 
Fico a questionar-me sobre que ideia brilhante tiveram para a capa de “Harry Potter e a Ordem da Fénix”, o Sirius Black dentro de um caixão? Jesus Christ…
Acho muito improvável existir alguém que tenha gostado do primeiro e não tenha gostado deste livro também. Traz tudo o que é de bom no primeiro e melhora ainda mais, com menos exposição de coisas e de personagens (como é normal e esperado acontecer num primeiro volume de uma série) e mais ênfase em criar um plot mais interessante e bem construído. Quando lemos este livro pela primeira vez não fazemos ideia das consequências que certos actos terão no futuro (como o Harry matar um dos fucking Horcruxes do Voldemort!) e é por isso que é tão bom reler a história depois de conhecermos o panorama geral.
Uma diferença que tenho notado nesta minha releitura da série é que o Draco Malfoy é um pulha bem maior do que aquilo que me lembrava. Se calhar foi por causa de ter lido aquele erro que foi “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”ou algo do género, mas a verdade é que tinha cá para mim que ele era um antagonista desagradável, sim, mas maioritariamente inofensivo e tolerável. Mas desta vez, good Lord, cada vez que ele aparecia ou abria a boca só me apetecia enfiar-lhe uma varinha pelos olhos adentro. Morre longe. E pensar que cheguei a sonhar mais contigo do que com o Harry Potter… ‘The teenager brain works in mysterious ways‘.

Anyway, como já seria de esperar,  “Harry Potter e a Câmara dos Segredos” está mais do que recomendado. Está bem escrito, tem uma história consistente, personagens bem construídos e realistas (bem, tirando a parte da magia e tal), é engraçado, tem acção que vai crescendo a cada capítulo sem descurar as as explicações e reflexões necessárias. A pouco e pouco, Harry e o resto do gang começa a transitar de criança para adolescente e é gratificante ver que essa transição vai sendo figurada nos livros, com os personagens a tornarem-se cada vez mais maduros.

E mesmo que uma ou outra vez nos pareça que há decisões idióticas a serem tomadas, convém sempre lembrar que estamos a lidar com protagonistas com menos de 18 anos, do primeiro ao sétimo livro. E há que respeitar estes personagens; com 14 anos, a minha maior preocupação era que os Lusíadas saíssem no exame nacional de 9ºano. Com 14 anos, o Harry viu um colega ser morto à frente dele e viu o Senhor das Trevas renascer depois de um homem ter decepado uma mão para dentro de um caldeirão.

Em suma, é um livro que quanto mais se lê, melhor se torna. Se nunca leram em inglês, aconselho também que o façam. Não posso dizer que é o meu preferido de todos, simplesmente porque a partir daqui a qualidade é sempre a subir. Ou será que não? Não percam as próximas reviews porque nós, também não!

Zona Bónus
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À semelhança do que aconteceu com a releitura do “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, saltaram-me à vista alguns pormenores que gostava de deixar aqui para discussão ou, simplesmente, para reflexão interior.

  •  Já todos sabemos que os Weasley têm problemas de dinheiro, como o Ron faz questão de relembrar em todos os livros. Mas neste livro não consegui deixar de reparar na quantidade alucinante de comida que aquela família come! Já sabia que a Sra. Weasley cozinha muita bem e que lá em casa há sempre grandes banquetes em dias de festa e afins, mas daí a cada pessoa comer 3 ovos estrelados e 9 salsichas ao pequeno almoço ou 6 sandes de bacon ao almoço… Não admira que o dinheiro voe, com uma família de 9 pessoas, cada uma a comer quantidades de comida para um regimento… Se reduzissem só um bocadinho a ração individual, o Ron até seria capaz de ir bem vestido para o Baile de Inverno…
  • Mas afinal quem é que decide quais são os livros que vão ser usados para cada disciplina lá em Hogwarts? Como é que é possível que, dos 8 livros necessários para o segundo ano, 7 sejam do atrofiado do Lockart?? 7 fucking livros para uma só disciplina? 7 livros que não são nada baratos, como a Sra. Weasley deixa bem estabelecido? Dumbledore, alguma mão nisto, por favor!
  • E por falar em Gilderoy Lockart, com esta minha releitura apercebi-me de algumas imbecilidades que me deixaram um bocado de pé atrás. É suposto o Lockart ser irritante e convencido, e isso fica bem explícito ao longo do livro, por exemplo, quando ele apanha o Harry em várias situações desconfortáveis e lhe dá um ‘sermão’ sobre a fama não vir de graça e de se precisar de trabalhar muito para que ela apareça. Mas é exactamente numa dessas conversas em que ele se sai com uma destas: “Quando eu tinha 12 anos, eu também era um zé-ninguém como tu, se calhar até mais, porque de ti já meia dúzia de pessoas ouviu falar, por causa de toda aquela cena com o Senhor das Trevas! Eu sei, não é tão bom como ganhar o prémio de ‘Sorriso Mais Charmoso’ cinco vezes de seguida, mas é um bom começo, Harry!”. Eu sei que é suposto esta cena ser engraçada, mas quão retardado é que é suposto o Lockart ser para nem compreender a gravidade da situação do Lord Voldemort? Desta vez não dei por mim a rir, só a franzir o meu sobronho… Não gostei.
  • Por que é que o Ron, sabendo bem o que é um Gritador, não começou a fugir do Salão no momento em que o recebeu? Não estou a dizer para o ignorar, mas claramente podia ter ido ouvindo enquanto o levava para fora ali, onde toda a gente estava muito interessada em ouvir. Típico Ron, a querer chamar um bocado de atenção para si mesmo. Mas eu percebo, não é nada fácil ser o melhor amigo de um Harry Potter.
  •  Que tipo de escola é que tem alunos a serem petrificados e acha que é uma excelente ideia continuar a dar aulas como se nada fosse? Quer dizer, 4 alunos, um gato e um fantasma são atacados por alguma coisa que ninguém sabe o que é, e a solução é nada? Ah e tal recolher obrigatório e cenas, por favor. Foi preciso uma miúda desaparecer para finalmente os professores ganharem bom senso na cabeça. E onda andam os pais no meio disto tudo? Os pais que reclamam por o Hagrid ou o Lupin serem professores (e com alguma razão) mas que não dizem nada quando os filhos podem ser petrificados ou mortos? 
  • Por falar em petrificados, como é que o Nick Quase Sem-Cabeça foi despetrificado? Não podendo beber líquidos, deduzo que lhe tenham mandado um spray qualquer para a cara ou assim, não? Nesse caso, não sei por que é que ele se queixa tanto, afinal pode beber vinho tinto em spray!
  • Ainda nisto dos petrificados, vamos só comentar o facto de o Basilisco ser a criatura mais incompetente à face da terra? Tem uma escola enorme com não sei quantos alunos filhos de Muggles para matar e o máximo que consegue é petrificá-los? Nem a porra de um gato conseguiu matar. Se formos a ver bem, a única pessoa que matou foi um fantasma, que não tem interesse nenhum matar porque já está morta! E claro, foi facilmente derrotado por um pássaro e um miúdo de 12 anos com uma espada. Pobre Voldemort, a depender de criados assim é de facto muito difícil voltar a ser relevante.
  • Toda aquela cena inicial com a plataforma a fechar-se e ninguém mais dar conta faz muito pouco sentido na minha cabeça. A plataforma em si sempre me fez confusão, como é que centenas de alunos e respectivos familiares passam por uma parede sem que UMA pessoa em toda a estação note. Mas pronto, deixemos isso passar. Como é que mais ninguém reparou que a plataforma estava fechada? A Sra. Weasley não voltou para trás para descobrir onde raio estava o filho e o Harry? E que raio de crise de ansiedade é que deu aos putos? Podiam ter esperado que os Weasley ou alguém aparecesse para resolver a situação, em vez disso correm logo para a solução menos óbvia: ir a voar de carro para a escola! Claro! Não é a solução mais lógica?
  • A sério que mais ninguém no jogo de Quidditch reparou que estava uma bludger a perseguir especificamente um e um só jogador? Não há um árbrito a apitar, professores a ver as equipas a jogar? É tudo cego? Eu nunca li “O Quidditch através dos tempos“, mas tenho a certeza que há qualquer coisa de ilegal em ter uma das bolas a tentar albarroar um dos jogadores.
  • A password para a sala comum dos Slytherin é ‘pureblood(sangue-puro). Han? Quem toma estas decisões? Uma série que tenta promulgar a igualdade de pessoas, a enaltecer as qualidades de cada um independentemente da família ou do passado de onde vem, a sério que foi dar essa password aos Slytherin? Tenho quase a certeza que há meios-sangue e até filhos de Muggles na equipa. Aliás, tenho 100% de certeza, basta pensar que sua excelência Tom Riddle esteve nos Slytherin, e é tão puro-sangue como eu.
  • No clube dos duelos, o Malfoy usa um feitiço para conjurar uma serpente e assustar o Harry. Assim sendo, que mais animais é possível conjurar? Quais são as limitações? Todos sabemos que é impossível transfigurar objectos para comida mas, se conseguirmos conjurar um boi, os problemas da fome acabaram. Weasley, estão a ouvir isto?? 
  • Na parte final do livro, quando o Harry acaba de matar a memória do Tom Riddle, a Ginny sai-se com esta “Desde que o Bill entrou para Hogwarts que eu não penso noutra coisa”. Minha filha, tu estavas a acabar de nascer quando o Bill entrou para Hogwarts. Como é que não pensas noutra coisa se eras um bebé recém-nascido? Eu sei que queres parecer bem ao pé do Harry Potter, mas pára de inventar porcarias. Afinal, vais casar com ele de qualquer maneira. 
  • Será que o Harry nunca mais se lembrou de resolver a situação de ter sido o Dobby a fazer magia na casa dele e não ele? Agora o Dobby é livre, deve ir poder fazer um testemunho qualquer, não? É que estamos perante uma coisa grave, quem já leu ‘Harry Potter e a Ordem da Fénix’ sabe. E já agora, os feiticeiros acham que são tão bons, mas não conseguem perceber quem é que fez magia numa casa? É que nem sequer fazem uma investigação rigorosa, é logo “Toma lá uma carta de advertência, faz mais uma dessas e vais expulso, para ver se aprendes”. Acho que já podiam ter melhorado esse aspecto. 

Até à próxima!

2 Comments

  1. A ultima obra literária que li foi um rótulo de Champõ linic…

    lindíssima história cheia de aventura e mistério com um triângulo amoroso composto por Sodium lauryl, Chloride Benzyl e Aloe Vera.

    O Twist no final apanhou-me completamente de surpresa. Eu estou a ficar careca e aquilo na embalagem dizia para cabelos fortes e saudáveis.

    Ainda não li o ultimo do Harry Potter.Vale a pena? O meu favorito continua a ser o prisioneiro de Azkaban.

  2. ahahah, que honra ter aqui o Cinemutu! Sou fã do teu blog 🙂
    Se gostaste do Linic, tens de experimentar a série Pantene (é de deixar os cabelos em pé).

    Toda a série Harry Potter vale a pena! O Prisioneiro de Askaban é quando a história começa a ficar mais dark e interessante, também é dos meus preferidos. A review desse também está para breve 😉

    Obrigada por comentares, e faz favor de ir ler o livro!

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