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Lembro-me de descobrir este livro na biblioteca da minha escola, numa altura em que ainda não sabia que o filme era uma adaptação de um livro. Requisitei-o e li-o, e a única coisa que me lembro é que não fiquei particularmente fã. O porquê, já não me lembro. Ou não me lembrava até há uns dias atrás, em que decidi adquirir e reler o livro. E agora vamos discuti-lo.
Publicado pela primeira vez em 1909, escrito pelo francês Gaston Leroux, ‘O Fantasma da Ópera’ baseia-se em factos históricos que aconteceram na Ópera de Paris no século XIX para nos tentar trazer um romance gótico com ópera, mistério e fantasmas. Vá, só um fantasma. Ok, um homem que se pensa ser um fantasma.
Não deixa de ser irónico que um livro baseado em mistério, fantasmas e terror me deixe a rir às gargalhadas com a primeira frase: “NESTE LIVRO, O AUTOR DESTA OBRA SINGULAR CONTA AO LEITOR COMO OBTEVE A CERTEZA DE QUE O FANTASMA DA ÓPERA REALMENTE EXISTIU”. Caps Lock incluído e tudo, é assim que começa O Fantasma da Ópera, com o autor a berrar a autenticidade da história com a mesma veemência que já vi em alguns drogados a proclamar o fim do mundo porque viram as chagas de Cristo nas borras do café da manhã. This is some great foreshadowing…
Apesar de ter gostado mais do que estava à espera (tendo em conta as minhas memórias), tenho de dizer que foi uma história fraca. Tanta coisa poderia ser feita com este set-up – um homem ‘fantasma’ na Ópera de Paris – e somos levados para um triângulo amoroso ridículo onde nenhuma das pontas tem os motivos certos para gostar de quem gosta.
Se quiséssemos levar Christine Daae a sério, teríamos de imaginá-la como uma miúda de 12 anos e não de 16 como nos é apresentada no livro. Christine acredita que o fantasma é o Anjo da Música de quem o pai lhe falava quando era criança, um génio musical que a visitaria no futuro para ser seu professor, e por isso interpreta de forma natural toda esta maluqueira de uma voz falar com ela a partir das paredes da ópera. Uma pessoa normal pelo menos visitaria um psiquiatra ou falaria com alguém, mas não a nossa Christine. E eu que me achava retardada por só ter deixado de acreditar no Pai Natal no meu 7º ano.
Raoul conseguiu ser o personagem mais irritante deste livro e, talvez, o mais odioso também. Para além de tomar parte num dos clichés mais odiados por toda a população terrestre excepto os escritores – love at first sight – ainda mantém durante toda a história uma atitude possessiva para com Christine e outros que interagem com ela, exigindo explicações e atenção que pensa ser-lhe devida. Jovem!, já muita sorte tens tu em saber que o teu amor de infância continua uma pessoa mentalmente sã não sei quantos anos depois de se separarem. Eu fui pesquisar no Facebook dois dos meus antigos ex-namorados e descubro que um se diverte a passar os fins de semana em salões eróticos por esse Portugal fora e outro ainda acha que se esconder o cabelo debaixo de um boné do Euro 2004 não se nota tanto que não o lava há 3 semanas. Por isso, repito, Raoul, dá graças ao Senhor e vê se te comportas melhor, agora que viraste Conde.
Uma personagem que me entristeceu bastante foi a Madame Giry. No filme ela surge como uma personagem forte e autoritária, a única intermediária e, originalmente, salvadora de Erik, o Fantasma. No livro ela não é mais que uma velha louca que trabalha na ópera a quem o fantasma pede serviços esporadicamente (tarefas árduas como deixar um guião de um espectáculo no seu camarim, uhh). Ficamos, no entanto, a conhecer um homem a quem chamam Persa, que é a única pessoa que lida directamente com o Fantasma, tendo inclusive salvo a sua vida no passado. Isto não é, no entanto, na visão do autor, razão suficiente para dar qualquer tipo de atenção especial a este personagem, uma vez que o pobre homem mal participa na história até chegarmos à parte final. Mas tendo em conta o que fizeram com ele no filme (ou o que não fizeram), eu cá não me queixaria muito.
É verdade que Erik viveu alguns anos com um grupo de ciganos, onde aprendeu os primeiros truques de magia e ilusionismo que lhe permitiram passear pela ópera de Paris aparentemente de forma invisível. Mas mais do que isso, Erik ainda trabalhou na Pérsia e em Constantinopla na área da construção civil. E foi graças ao seu emprego como trolha que acabou a viver na ópera de Paris. Incrível, não? What is your excuse?
Não deixa de me incomodar o facto de um homem com um curriculum vitae como o de Erik se ter condenado a viver sozinho numas catacumbas, tendo estado ao serviço de ‘reis’ da Ásia Oriental e sabe Deus que mais. Ninguém quer saber se és feio se trabalhas bem – põe um saco na cabeça e todos ficam felizes. Eu gostaria de dizer que as aparências de uma pessoa são a última coisa pela qual a devemos julgar, mas vivendo eu num mundo onde pessoas se oferecem para pagar fianças a presidiários porque são gatxinhos (estou a falar disto, para o caso de viveres numa caverna), vou é manter a boca fechada.
My point is, acho que havia melhores caminhos que Erik poderia ter seguido, tendo em conta o seu histórico laboral. A partir do momento em que começas a raptar adolescentes e a afogar condes, fica difícil ficar do teu lado. Ah sim, e atirar candeeiros para cima de plateias também não é uma reacção aceitável. E já agora, olhando para este excerto do livro, digam-me que não há uma enorme probabilidade de o Correio da Manhã se poder ter inspirado n’ O Fantasma da Ópera:
Anyway. Como eu disse, O Fantasma da Ópera parece-me uma história relativamente fraquita que poderia ter sido muito mais. Os personagens não são assim tão desenvolvidos como deveriam (hell, o passado e as motivações do Fantasma são praticamente todas contadas na terceira pessoa, por um gajo que aparece umas 2 vezes na história) e há coisas que me irritaram profundamente, nomeadamente: Raoul ser um idiota possessivo, Christine ser uma pindérica alucinada e Erik ser um talento desperdiçado sem (muita) razão. Admito que possam ser razões demasiado superficiais para achar mal de um livro, mas é o que há. Mais ou menos válidas, foram razões suficientes para não em fazer gostar tanto deste livro como poderia esperar. Também sejamos sinceros, é um bocado difícil levar a sério o problema da fealdade de Erik quando no filme somos presentados com isto:
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Aquela metade de cara é melhor que muita cara inteira por aí, let me tell you.
Ahh, what am I saying. Como sempre, não levem a minha palavra como regra e façam os vossos próprios julgamentos. Apesar de eu não ter gostado tanto, acredito que muitos apreciem. Deixo só uma última reflexão pessoal: ‘Fantasma da Ópera,’, ‘Bela e o Monstro’ e ‘Corcunda de Notre Dame’… que raio de mania é esta dos franceses rodarem as histórias à volta da beleza para além do seu anterior? A auto-estima anda assim tão em baixo por aí? Animem-se! Afinal, as melhores baguetes continuam a ser as vossas!