Quer tenha sido bom ou mau para nós, o que é certo é que 2020 já lá vai. Felizmente não me posso inserir no grupo dos decepcionados – no ano da pandemia consegui preservar a minha saúde, trabalho, casa, família e amigos. Foi sim uma época de estagnação em que o tempo parecia “morto” mas, no meio do caos, sinto-me abençoada.
E mesmo que tivesse sido um ano mau, quero acreditar que os livros poderiam ter desempenhado um papel de esperança – um oásis no deserto do desespero. Mas sem mais demoras, apresento os meus oito livros preferidos do “ano para esquecer”:
O primeiro e único livro do Stephen King que li em 2020, para minha infeliz surpresa. Gosto muito deste autor mas, se continuar a ler a obra dele a este ritmo, hei-de morrer ainda com metade da bibliografia em lista de espera. “Bag of Bones” (ainda não traduzido em Portugal, penso eu) tem um início lento, como é apanágio do Stephen King. Amantes do autor já estarão habituados; os outros, por favor, tenham paciência e não desistam porque este foi dos melhores livros de terror e thriller que li. Tem mistério, tem rednecks, tem small town crazy people e small town secrets… desculpem tanto estrangeirismo, mas é um livro tão “americano” que não dá para o descrever de outra forma. Adorei, que venham mais destes.
Não podia deixar de mencionar uma série de fantasia que nunca na vida pensei vir a ler – “The Witcher”, do polaco Andrzej Sapkowski. E o mais invulgar é que ainda menos achei que alguma vez iria jogar algum jogo dessa série – não só joguei e adorei o “The Witcher 3 – The Wild Hunt” para a Nintendo Switch como também ele foi a razão de me ter aventurado nesta série de 8 livros (ainda me falta um!). Não é uma história para o público comum, muito menos para quem não costuma ler fantasia. Mas só posso dizer que é incrível explorar todos os canons e cenários paralelos entre o trabalho original do autor e as liberdades criativas dos jogos (e provavelmente da série da Netflix, que não vi). Independentemente da narrativa que siga, as personagens ficarão comigo para sempre. Há uns meses escrevi uma pequena resenha dos primeiros livros, para quem quiser ler aqui.
É impressão minha ou os romances históricos são caros e raramente têm grandes promoções? Se calhar sou só eu que não sei procurar nada. Não me admirava muito… mas custa-me sempre tanto arranjar livros deste tipo que não rebentem logo com o meu orçamento mensal para livros! Nem parece que é o meu género literário preferido, pelo número de exemplares que leio anualmente… Mas bom, “A Imperatriz Romanov” foi uma grande leitura, transportando-nos na pele da penúltima imperatriz russa, desde que ascende ao trono até à esperada queda da dinastia Romanov. Para mais informações podem ler a minha opinião aqui, mas claro que está mais que recomendado.
Para quem, por opção, não lê muitos thrillers e policiais num ano, em 2020 fui contra todas as minhas regras. São géneros dos quais me canso facilmente se ler vários de seguida ou em curtos períodos de tempo porque me começa tudo a parecer repetitivo e previsível. Mas, nem sei bem porquê, houve meses em que não estava a conseguir concentrar-me em grandes obras (tanto em tamanho e complexidade) por isso recorri a alguns títulos que já tinha na algibeira. “O Hipnotista” é o primeiro livro de uma saga sueca que acompanha o inspector Joona Linna em investigações de crimes mais ou menos esotéricos em Estocolmo e arredores. Este é capaz de ser o livro “menos favorito” desta lista, até porque em termos de thriller não tem nada de arrebatador ou especialmente surpreendente. Mas foi macabro, intrigante, teve surpresas e deixou-me com “a pica” para continuar com a série. Por isso, acho que merece uma menção honrosa.
E aproveitando a onda de thrillers, há que mencionar um autor português que conheci e desbravei em 2020. Na verdade, qualquer um dos quatro livros da série “Afonso Catalão” do Nuno Nepomuceno poderia estar figurado nesta lista, pois li e gostei muito de todos. Mas, vá, se for esmiuçar bem a coisa, “A Célula Adormecida” e “Pecados Santos” foram os meus títulos preferidos. Neste livro acompanhamos uma sequência de assassinatos brutais que parecem representar famosas cenas do Velho Testamento, e de uma ou outra forma relacionados com a comunidade judaica. Foi sem dúvida esta última temática que me fez gostar imenso do livro, aprendi muito, mas o resto da história não fica aquém. Se são fãs do género, não deixem de conhecer este autor nacional!
Como assim, outra série de fantasia na minha lista de favoritos? Mesmo que não tivesse havido pandemia em 2020, teria de considerá-lo um ano atípico nem que fosse por isto. À semelhança de tantas outras pessoas, sempre gostei muito de mitologia grega, por isso sempre considerei uma falha gravíssima de currículo não ter lido esta saga quando era criança/adolescente. Passada a idade, sempre tive medo que já fosse demasiado infantil para mim. Este ano, aproveitei uma boa promoção na Amazon e comprei logo a colecção inteira, que li em pouco mais de um mês. Teria com certeza gostado mais quando era mais nova mas ainda assim diverti-me imenso, tanto que agora ando à procura de novas promoções nas sequelas.
Talvez por ter estado tanto tempo aborrecida em casa este ano que passou, acabei por fazer muitas compras impulsivas de livros que ia ouvindo falar. Assim sendo, não foi difícil convencer-me de que precisava muito de ler o adorado “As Sete Mortes de Evelyn Hardcastle”, o debut de Stuart Turton. Quer dizer, adorado por alguns mas não por todos; também vi um par de críticas a abordar a questão de ser um livro complexo por abordar “viagens no tempo” e a repetição do mesmo dia sem fim. Compreendo de onde vêm esses pensamentos mas foram esses exactos elementos que me fizeram gostar imenso do livro! Ter de pensar e ir juntando as peças até à resolução final foi o que mais gozo me deu nesta leitura. Um bom calhamaço que espero sem dúvida reler daqui a uns anos.
O mais parecido com um clássico a figurar esta lista é este espantoso livro de Ian McEwan, traduzido em Portugal como “A Expiação“. Depois de muitos anos a ouvir maravilhas da obra (livro e filme também, que nunca vi), decidi dar-lhe uma oportunidade. Com um início e até um desenvolvimento relativamente lento, é a história de como um erro de uma criança pode mudar o destino de duas pessoas, por muito inocente e bem fundado que pareça inicialmente. Um livro que vale muito a pena e que merece definitivamente um lugar no pódio, bem como uma releitura daqui a uns tempos.