Eis um livro que beneficiou das minhas baixas expectativas, para variar. Lucy Foley não é uma autora consensual. Muitas são as críticas menos positivas ao seu thriller de estreia “A Última Festa” e embora o seu sucessor “The Guest List” tenha agradado mais à crítica, a mim não me convenceu. Entretanto alguém me ofereceu o e-book do “O Apartamento em Paris” e como não sou de desdenhar de coisas à borla, decidi dar mais uma oportunidade à escritora britânica.
Confesso que os primeiros capítulos começaram desde cedo a deixar-me inquieta pois em poucas páginas levamos logo com duas péssimas tentativas de suspense: primeiro, um homem possivelmente armado parece que vai atacar a protagonista, Jess, mas afinal é só um hippie com um iPhone com uma capa metalizada (coisa que nunca vi na minha vida) e pouco depois, quando Jess entra no apartamento leva uma violenta pancada que a deita logo ao chão – viramos a página e descobrimos que é só o gato (se fosse um puma eu talvez levasse a coisa mais a sério). Se isto continuasse assim por muito mais tempo tenho a certeza de que não chegaria ao fim do livro. Mas, miraculosamente, estes primeiros capítulos foram só uma aparente má fase de inspiração criativa porque de resto não temos outras comoções assim tão disparatadas (mas, atenção, elas existem).
Acho que é claro que o objetivo da autora não é o leitor se identificar com a Jess, a personagem principal, nem mesmo de criar empatia com a maioria das personagens secundária (ou se era, falhou redondamente). Este é um mistério que nos prende muito mais pelo enredo do que pelo desenvolvimento do elenco, como já é comum neste género literário.
E optei deliberadamente pelo termo “mistério” ao invés de thriller porque “O Apartamento em Paris” não prima, de facto, por um grande ritmo de ação. O facto de se desenrolar quase na íntegra num cenário fechado (num condomínio privado em Paris, desenganem-se se acham que vão ter belas descrições da cidade de l’amour) com um leque de suspeitos bem balizado coloca o livro muito mais num patamar dos clássicos de Agatha Christie do que um thriller como os que se veem hoje em dia.
A primeira grande surpresa apanhou-me desprevenida, bem como outras revelações que surgem mais para o final da história. Pode ser a minha inocência a falar mas achei mesmo que os segredos foram, quase na sua totalidade, surpreendentes e credíveis. Um ponto negativo é que essa primeira reviravolta surge tão cedo no livro que a segunda parte da narrativa perde alguma cadência e se torna mais arrastada, exatamente o contrário do que o leitor espera numa obra destas.
De forma geral, encontrei um mistério bastante satisfatório que me preencheu as medidas e superou as expectativas, mesmo elas sendo baixas tendo em conta o que já conhecia da autora. Com personagens pouco cativantes e com mais páginas do que provavelmente seria necessário, “O Apartamento em Paris” é ainda assim um bom livro para entretenimento, com um enredo que não se esquecerá assim tão facilmente. Parece que ainda vou deixar a porta aberta para futuras incursões da Lucy Foley.
Um bonito prédio de apartamentos, nas ruelas de Montmartre. Um lugar de escadas sinuosas, portas fechadas e olhares atentos que espreitam de todas as janelas. Um lugar de morte. Um residente está desaparecido. E outro detém a chave do seu desaparecimento. Jess precisa de começar do zero. Está sem dinheiro, sozinha, acabou de deixar o emprego, em circunstâncias pouco claras. Ben, o seu meio-irmão, não ficou muito contente quando ela lhe perguntou se podia ficar em sua casa por uns tempos, mas não foi capaz de lhe dizer que não. De certeza de que tudo ia correr bem.
Quando ela chega a Paris, descobre que o meio-irmão mora num apartamento, que ela nunca imaginaria que ele tivesse dinheiro para pagar. E, mais intrigante ainda: as chaves e a carteira de Ben estão lá, mas ele não. Os dias passam, Ben continua desaparecido e as questões acerca da sua vida começam a surgir na cabeça de Jess. Os vizinhos são um grupo eclético e não muito simpático. A socialite, o tipo porreiro, o alcoólico, a porteira. Jess não sabe em quem confiar. Todos são vizinhos. Todos são suspeitos. E todos sabem algo que não estão a contar.