“Não há lugar como a nossa casa” é a frase que logo me vem à cabeça quando penso no Feiticeiro de Oz graças a um velho filme de animação que me fartei de ver quando era criança. Na altura não fazia ideia (nem pensava nisso) de que seria uma adaptação de um livro, aquele VHS era apenas mais um de uma colecção de bootlegs que os meus pais me compravam com muito carinho e que sempre achei que seria uma história inventada só para aquilo. Anos mais tarde deparei-me algures com o clássico protagonizado pela Judy Garland no ano de 1939 e qual não foi o meu espanto quando me deparei com a mesma frase a ser proferida, o que me levou a pensar que afinal “O Feiticeiro de Oz” provavelmente seria uma história algo maior do que aquilo que tinha pensado desde o início (e que também me levou a sair levemente desiludida quando percebi que a frase não constava do livro).
Comecei recentemente a minha ambiciosa (monetariamente falando) colecção dos clássicos ilustrados pela dupla Minalima e a edição de “O Feiticeiro de Oz” chegou cá a casa por ocasião do meu aniversário. E foi assim que regressei ao Kansas, à Cidade Esmeralda e ao Fantástico Mundo de Oz. É uma história infantil sobre Dorothy, uma menina que vive com os tios numa quinta que é acometida por um tornado. Incapaz de chegar ao abrigo atempadamente, Dorothy e o seu cão Totto são levados pelos ares em conjunto com a casa, durante o que parecem horas; quanto aterram, deparam-se com um cenário totalmente desconhecido e povoado por bruxas, feiticeiros, animais falantes, Munchkins e outros seres fantásticos que tais.
Apesar de cedo se descortinar um objectivo claro na história – Dorothy tem de encontrar o Feiticeiro de Oz para lhe conceder o desejo de voltar para o Kansas – toda a narrativa é muito episódica e certa forma pouco focada uma vez que em cada capítulo é apresentada ou alguma nova personagem ou uma descrição de uma mini aventura que a trupe principal – Dorothy, o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Cobarde – encontra durante o seu percurso na Estrada dos Tijolos Amarelos e que é resolvida em poucas páginas. Quem esperar um enredo mais desenvolvido sairá talvez desiludido se não se lembrar que a obra é primordialmente e principalmente um conto para crianças.
Mas por ser um livro dirigido ao público mais infantil não se pense que é tudo borboletas e flores cor-de-rosa (ou, no caso, verde esmeralda). Se pensarmos bem, os conflitos dos protagonistas são bastante aterradores, alguns de forma mais literal – como o Homem de Lata que foi, enquanto vivo, desmembrado e cortado aos pedaços – e outros de forma mais emocional, como o pobre Espantalho, que sendo um ser sensiente (talvez não propriamente racional, devido à falta de cérebro) estava condenado a passar o resto dos seus dias amarrado a uma vara. Poderão ser ambos considerados exemplos de tortura física e psicológica. A própria Dorothy, que embora não tenha a idade especificada é apenas uma criança (bem mais nova que uma Judy Garland) cai de pára-quedas num sítio totalmente desconhecido e perigoso e não só age corajosamente durante toda a jornada como ainda chega ao final não com um mas com dois assassinatos no cadastro. Interessante. Claro que todo o debate sobre se tudo terá sido real ou apenas um sonho da Dorothy nunca é resolvido e cabe ao leitor tirar a sua conclusão.
“O Feiticeiro de Oz” é um clássico intemporal que está perfeitamente apto a ser lido e degustado nos dias de hoje, um bom feito para uma história publicada originalmente em 1900. A escrita é simples mas rica e a progressão do enredo tanto nos vai deixando fascinados com o que encontramos em Oz como nos vai deixando ansiosos para descobrir como é que tudo se vai resolver, ou não. Com o sucesso que a obra teve na altura não me surpreende que L. Frank Baum tenha expandido ainda mais a sua ideia original – estamos a falar de 13 sequelas! E anda a gente a reclamar de como o Michael Bay não deixa a série dos Transformers simplesmente morrer (são só oito filmes, por amor de Deus). Não são, no entanto, continuações que esteja particularmente interessada em ler de momento; a magia do primeiro satisfez-me a curiosidade e é esse que sem dúvida recomendo como leitura obrigatória.
Então foi aqui que aprendeu a gostar de Mago de Oz?
Um comentário perspicaz, caro leitor, mas curiosamente a minha descoberta de Mago de Oz foi totalmente independente do livro ou do filme 🙂