Vou ser honesta: é cada vez mais difícil para mim refletir objetivamente sobre os thrillers que vou lendo. Em termos de temática, de enredo e mesmo de personalidade dos inspetores ou dos protagonistas, começa a rarear a diversidade e a originalidade, o que me está a levar a confundir ou simplesmente a esquecer alguns livros que me têm passado pelas mãos. Mas então, por que é que ainda insisto em lê-los?
Provavelmente, pela mesma razão que me leva a ver 5 vezes o mesmo episódio de “CSI Las Vegas” ou de “2 Broke Girls” – puro entretenimento e diversão. Quando pego neste género não espero encontrar reflexões profundas sobre a condição humana ou qualidade literária a nível de Prémio Nobel, nem sequer estou à espera de me relacionar com o elenco. Tudo o que peço é uma narrativa ritmada que me prenda a atenção durante umas boas horas e que no final de tudo não me faça desejar recuperar o tempo perdido. Boa parte do que leio ainda entra nesta categoria, felizmente, e aqueles mesmos extraordinários vão ficando na memória.
Falemos então do mais recente que li, “Viajo Sozinha“. Apesar de só muito recentemente ter chegado a Portugal e às bocas dos portugueses, este calhamaço remonta, na verdade, a 2013. E se estão preocupados por este atraso de sete anos poder tornar o livro datado ou obsoleto, não se aflijam; qualquer altura é boa para ler sobre assassinatos peculiares, seitas religiosas e crianças negligenciadas. E temos tudo isso e ainda mais neste livro.
A história não é nada de transcendente mas os capítulos são curtos e não deixam vontade de pousar o livro. Os dois detectives principais, Mia e Holger, não são as pessoas mais cativantes à face da terra mas é notório o carinho que têm um pelo outro e a ainda maior dedicação que dão ao seu trabalho, o que nos faz ficar sempre a torcer pelo sucesso deles, mesmo que de forma inconsciente. O mistério dos crimes é bem estruturado e vai sendo desvendado progressivamente, o que torna quase impossível alguém classificar o livro como aborrecido. Nota positiva também para o desfecho que não achei nada previsível (talvez até descaia um pouco para o lado do rebuscado, mas… vivo bem com isso).
Posto isto, admito que não consigo classificar a obra com mais do que três estrelas o que, atenção, continua a ser uma avaliação muito satisfatória. Pessoalmente, acho que o autor se estendeu demasiado em pormenores e enredos secundários que não têm grande razão de existir, podendo o livro sobreviver muito bem com menos umas cem páginas, no mínimo. Certamente que haverá leitores que gostarão dessa característica da “palha” adicional; deixa-nos mais confusos e ainda mais na expectativa de perceber, até à última página, como é que tudo se vai encruzilhar. O problema surge, para mim, quando essa conexão nem chega a acontecer e certas pontas da história são ou esquecidas ou terminadas abruptamente (mais pormenores sobre isto na secção de spoilers).
Apesar de tudo, é um thriller recomendadíssimo pela comunidade literária e não vou ser eu a primeira pessoa a desdizê-lo. Mesmo com os seus defeitos, a meu ver, é um bom livro que certamente muitos irão gostar bem mais do que eu. Por isso, peço que o leiam e partilhem a vossa opinião.
Infelizmente, parece que Samuel Bjork não é tão prolífico a produzir como alguns dos seus pares mas cá continuarei à espera para ler o que mais for sendo publicado em Portugal. Para uma próxima leitura gostava de ver um enredo mais focado e com uma motivação mais forte para a perpetuação dos crimes. Quem sabe se não tenho o que desejo?
Um homem que passeia no bosque encontra o corpo de uma criança pendurado de uma árvore. Um cenário dantesco no meio do bosque. Pendurada do pescoço da menina, uma nota onde se lia: VIAJO SOZINHA. Holger Munch, um homem solitário, experiente investigador da polícia norueguesa fica encarregue do caso e de formar uma unidade de investigação, na qual vai ter de integrar e procurar a sua anterior parceira na polícia Mia Krüger, entretanto afastada da civilização e a lidar com os seus próprios fantasmas.
Uma perturbada mas brilhante detective que será uma das peças chaves para desvendar o mistério que se vai adensado à medida que ambos descobrem que esta vítima é apenas a primeira, quando Mia descobre que também nas unhas da menina estava mais uma pista.