Em Junho tive a felicidade de voltar ao meu género favorito – romance histórico 📜 ! Mais especificamente, romance histórico da monarquia inglesa, tema sobre o qual gosto muito de ler (juro que não é sobre os Tudor). Portanto, muitas razões para eu partir entusiasmada para este livro!
Comprado por acaso numa das feiras do livro do Continente, “Vitória – A Jovem Rainha” é um romance de 2016 escrito por Daisy Goodwin, a produtora da série de TV homónima que estreou no UK no mesmo ano. Embora não tenha interesse em ver a série, esse foi um pormenor que aguçou ainda mais a minha curiosidade. Eis uma pessoa que deve ter passado uns bons meses a estudar, coligir e aperfeiçoar material de entretenimento sobre a rainha Vitória, de certeza que seleccionou muito conteúdo interessante para o seu romance, certo 🤡? Hum… é melhor irmos por partes.
Primeiramente, deixem-me tentar ser prestável (perdoem a falta de modéstia). Se estão a ponderar ler este livro – ou mesmo se já o leram – recomendo que guardem a seguinte figura:
Sim, uma árvore genealógica dos ancestrais da rainha Vitória. E por que raio vos estou a mostrar isto? Porque acho que em livros deste género (e ainda mais neste livro em específico) é imprescindível uma imagem gráfica da família da protagonista, com os pais, tios, irmãos, primos e os próprios reis. É a primeira de duas coisas que mais valorizo num romance histórico (brevemente falarei da segunda) e senti a sua falta especialmente nesta história, não só porque em texto fica mais difícil acompanhar todos os nomes e parentescos mas também porque a própria ascensão de Vitória não pode ser considerada um acontecimento ordinário. Por alguma razão o Reino Unido só teve 8 rainhas reinantes em todos os seus séculos de monarquia.
Vejamos, eu já era bem crescidinha quando a Inglaterra aprovou o acto que substitui a primogenitura de preferência masculina pela primogenitura absoluta para os nascidos na linha de sucessão. Ou seja, até 2013 um irmão mais novo estaria à frente de uma irmã mais velha na linha de sucessão somente devido ao seu sexo, isto há oito anos atrás! É por isso que quando leio um livro passado em 1837 (se calhar também era bom guardarem esta data, o livro não se vai esforçar muito para vos posicionar temporalmente) estou à espera que haja mais explicação de como é que uma mulher herda o trono de Inglaterra com tanto parente masculino vivo.
Uma vez no livro é mencionada a Lei Sálica (a razão pela qual o seu tio herdou o reino de Hanover em vez de Vitória) mas nem mesmo isso é explicado claramente. E, claro, este pode ser mais um de muitos casos em que sou eu que estou a exagerar e a ser picuinhas mas, honestamente, se podemos ter 300 páginas de um pseudo-romance entre a rainha e o primeiro-ministro não me parece descabido entremear lá pelo meio um bocadinho de leis e política. Só um bocadinho, para não cansar o leitor mais despretensioso.
E falando no primeiro-ministro, vamos ao segundo ponto que valorizo num romance histórico: as notas do autor 🤓. Sabem, aquele “capítulo” final onde o autor assume (não que o leitor não desconfiasse) que tomou certas liberdades criativas em determinadas passagens da narrativa, prosseguindo a discernir o que é ficção do que é facto (e normalmente terminando em agradecimentos ao editor, ao cônjuge, à mãe e ao catequista da quarta classe). Muitos romances históricos não incluem esta secção, para minha infelicidade, mas em “Vitória” senti mesmo a sua necessidade. Cerca de 80%(!) do livro ciranda à volta da relação da rainha Vitória e de Lord Melbourne que evoluiu de cordial para quase romântica. Caramba, ficamos a conhecer melhor o velho do que o futuro marido da rainha, o príncipe Albert, que ganha protagonismo aí nas últimas vinte páginas do livro. E para uma leiga do período vitoriano como eu, fico sem perceber se esse envolvimento com o Lord Melbourne tem algum fundo de verdade ou se vem maioritariamente da cabeça da autora.
Já perceberam que este livro foi uma desilusão para mim. Vitória foi uma das mais emblemáticas monarcas da Inglaterra, com um reinado de 63 anos que acompanhou muitas mudanças no país a nível industrial, político, científico e territorial; e por algum motivo, a autora optou por se focar apenas nos primeiros dois anos do reinado e por retratar a rainha como uma adolescente imberbe com uma paixoneta pelo seu conselheiro com idade para ser seu pai. Pareceu-me muito redutor e ficou, infelizmente, muito aquém das expectativas.
Concluindo
“Vitória – A Jovem Rainha” está longe de ser uma recomendação minha para fãs do género. É uma obra leve, o que torna a leitura fácil e acelerada, mas cujo resultado não abarca grande profundidade histórica. O livro não me trouxe praticamente nenhum conhecimento novo sobre este soberbo reinado e acreditem que eu não sou, de todo, conhecedora do tema. E mesmo a secção de ficção (que existe sempre, obviamente) foi demasiado extensa e pobremente fundamentada. Tenho a certeza que existirão por aí vários outros títulos que fazem uma muito melhor justiça à Rainha Vitória – só me falta descobri-los 🕵🏻.
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