Desenhos Ocultos – um thriller original no meio do marasmo

Antes de “Desenhos Ocultos” não me ocorre quando terá sido a última vez que peguei num livro de terror. Normalmente recorro a Stephen King para preencher essa quota mas a minha relação com “o mestre do terror” tem sido algo displicente. E a verdade é que se não tivesse sido escolhido para o clube literário da Dora Santos Marques (juntem-se ao Patreon!) eu dificilmente pegaria neste livro – e cometeria assim um grande erro.

Jason Rekulak é um autor americano que ganhou algum renome em 2017 quando publicou o seu primeiro romance “Fortaleza Impossível“. O que é que terá acontecido na sua vida para transitar de um Young Adult fofinho e nerd para um perturbador thriller com espíritos e assombrações, ele lá saberá. O que é certo é que “Desenhos Ocultos” logo arrecadou o prémio de melhor livro de terror no Goodreads (vale o que vale) e andou nas bocas do mundo por bons motivos. Mas será que merece essa atenção toda?

O livro não é muito longo nem se demora a despoletar a acção. Mallory, uma jovem recém-saída de um projecto de reabilitação de toxicodependentes, é seleccionada para ser ama de Teddy, um menino de 5 anos que mora com os pais abastados e que adora desenhar. Mas não qualquer tipo de desenho – Teddy fala abertamente sobre a sua amiga imaginária, Anya, personagem essa que pontualmente retrata nas suas obras mas de uma forma, digamos, peculiar:

À medida que a arte de Teddy vai ficando cada vez mais sinistra, Mallory começa a pensar se um homicídio ocorrido naquela mesma casa há uns anos não poderá estar a ter repercussões ainda hoje. Desencadeia-se a partir daí uma torrente de acontecimentos que deixa o leitor na expectativa até ao final para desvendar afinal o quanto de sobrenatural é que existe na história toda. Se há ou não fantasia nesta obra, não o vou revelar, porque afinal é esse o grande mistério. Vamos recolhendo pistas que tanto apoiam como contradizem essa tese e vamos construindo uma expectativa que pode ou não ser confirmada no final.

A conclusão foi para mim algo agridoce. As grandes revelações são inesperadas e duvido mesmo que alguém as adivinhe de antemão. São o ponto alto. O negativo para mim foi a tentativa de filme de acção nos últimos capítulos que foi demasiado repentina, violenta e descabida. Só faltava aparecer o Jason Statham. Como o twist não é previsível, algumas pontas soltas são atadas de forma meio atabalhoada, com motivações de personagens a surgirem do ar só para justificar algumas decisões. É um desfecho sobre o qual quanto mais penso, menos gosto.

Mas, mesmo com um final que desiludiu, não consigo deixar de pensar em “Desenhos Ocultos” como um livro espectacular. Foi sem dúvida dos melhores thrillers que li o ano passado, dos mais viciantes, originais e surpreendentes. Nunca tinha lido obras do género com ilustrações e são essas mesmos que acrescentam ainda mais valor ao livro. É uma história com falhas, admito, mas que para mim não falaram tão alto desta vez. Entrou para o meu top de thrillers preferidos e recomendo a toda a gente. Agora parto com alguma antecipação para o seu mais recente livro, “The Last One at the Wedding“.

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