Mythos – porque ler sobre mitologia grega (quase) nunca é aborrecido

Já devo ter dito dezenas de vezes por aqui que mitologia é dos gostos menos originais deste mundo. E já nem específico a mitologia greco-romana porque isso então é básico dos básicos. Até os repetentes que odeiam a escola gostam de ler o canto dos Lusíadas em que os deuses discutem o percurso da frota portuguesa. É tão certo como respirar.

Parece que a cada mês surge no mercado literário um novo reconto mitológico onde deuses, titãs, heróis e simples mortais são retratos sob outra perspectiva, quiçá mais trágica e romântico-sexual. Mas, sejamos honestos, múltiplas versões dos clássicos mitos são tão antigas como a própria mitologia. Vários de nós já terão passado por isso, ir pesquisar a origem de uma certa entidade e sair mais confuso do que quando se começou. Muitas foram as civilizações que criaram estas histórias para justificar a sua existência e a do próprio mundo, e mais ainda foram as interpretações e as liberdades tomadas pelos poetas e artistas clássicos quando escreveram as suas obras.

Não sou minimamente entendida em estudos clássicos, infelizmente, por isso não faço ideia como é que os historiadores seleccionam as obras e fontes mais relevantes ou credíveis para definir as versões que chegam até ao grande público. Eu cá gosto de optar pela versão mais interessante. Por exemplo, não há fontes consensuais quanto à paternidade dos gémeos Castor e Pólux; ou são ambos filhos do rei Tyndareus ou então são filhos tanto do rei como de Zeus (um filho de cada pai). Acreditar que poderemos estar perante um dos primeiros casos de superfecundação no mundo torna a estória muito mais apelativa, no meu entender. Nisto da mitologia, quanto mais sórdido, melhor.

Em “Mythos“, Stephen Fry narra episódios da mitologia grega da forma mais cronológica possível, desde o Chaos e das primeiras divindades aos titãs e posteriormente aos deuses e às inúmeras relações interpessoais que os tornaram infames. São episódios completos, não propriamente densos, e que apesar de escritos com humor não chegam a ser humorísticos. O autor escreve de forma simples e divertida mas sem descurar a integridade das histórias.

Lê-se muito bem mas é, ao fim e ao cabo, uma pequena enciclopédia de mitologia. São muitos nomes e árvores genealógicas demasiado ramificadas e entrecruzadas para que o casual leitor (eu) consiga reter muita informação após a leitura. Mesmo já não me lembrando de muitos capítulos, vejo-me muito facilmente a voltar pontualmente a esta obra para consultar referências que estão melhor coligidas aqui do que em muitos artigos da Internet. Só isso já o torna um pequeno compêndio muito valioso. Recomendo bastante e certamente que irei prosseguir com os restantes volumes desta colecção.

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