“Decepção” é capaz de ser das coisas de que mais tento fugir na vida; por isso é que vivo nesta bolha constante de ansiedade e baixas expectativas na esperança de atrair só e apenas boas surpresas. Não recomendo este modo de vida, antes que perguntem, mas não consigo evitar ser assim na maior parte do tempo, incluindo para com os livros. Mas para “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” foi muito difícil não construir uma expectativa uma vez que não conheço uma alma que não fale bem da obra. A boa notícia é que correu bem e não me desiludi (muito)! Não se tornou nenhum livro da vida nem nada que se pareça mas foi, de facto, uma excelente estreia com a Taylor Jenkins Reid.
O livro foi publicado lá em 2017 mas é até hoje o título mais famoso da autora, e também o mais consensual. Narra a história da aposentada estrela de cinema americano Evelyn Hugo que, aos 80 anos decide inesperadamente publicar a sua biografia mas escrita por uma terceira pessoa. A feliz contemplada é Monique, uma jovem jornalista que trabalha numa revista e que não tem qualquer relação ou particular interesse pela ex-actriz. O mistério do porquê de Monique ter sido seleccionada acompanha-nos durante toda a obra e só é desvendado mesmo nos capítulos finais. Durante semanas, Evelyn partilha com Monique os grandes episódios da sua vida, especialmente os do plano amoroso que tão bem contribuíram para a sua fama. E há muito para contar, não tivesse sido ela casada sete vezes.

Evelyn é a protagonista da história e enche cada cena em que surge. Podemos tecer algumas comparações entre a personagem fictícia e alguns nomes reais do cinema, sendo que algumas delas já foram confirmadas pela própria autora. A mais óbvia é com Elizabeth Taylor, estrela dos anos 50 e 60, conhecida também pelos seus múltiplos maridos e vilipendiada pela empresa devido aos oito casamentos (com sete maridos). Ava Gardner foi outra actriz sua contemporânea, ex-mulher de Frank Sinatra, que na velhice contactou um jornalista para escrever a sua autobiografia. E mencionar ainda Rita Hayworth (nascida Margarita Carmen), outra actriz e dançarina americana com ascendência latina e cigana que, à semelhança de Evelyn, mudou o nome e a aparência para se adaptar mais à paleta de Hollywood e vingar no meio.
Apesar dessas inspirações, Evelyn é dona de uma personalidade muito própria – não necessariamente aprazível – e de uma vasta gama de experiências de vida muito mais rica do que as congéneres da vida real (quem sabe?). Falar em detalhe dessa riqueza seria estragar a trama para quem não leu o livro ainda e por isso não o posso fazer, mas acreditem que há originalidade no desenrolar da biografia de Evelyn. Não pensem que lhe tiramos logo a pinta. Alegrias, dores, sucessos, desastres, erros, humilhações, reconciliações. É uma montanha russa de emoções elevada ao expoente máximo. Esperem ser surpreendidos.
Por ser uma estória tão focada na Evelyn e nas suas atribulações, surpreende-me que a autora tenha optado por intitular a obra “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”. Causa sensação e curiosidade, admito. Mas, na verdade, apenas dois dos maridos têm de facto alguma importância no crescimento da protagonista, os restantes funcionaram mais como subterfúgios de momento para tapar buracos e resolver problemas. Tiveram o seu impacto e utilidade, de facto, mas chegados ao final do livro temos de fazer um esforço para nos lembrar do nome de metade dos maridos. Não sei se não se poderia ter cortado um ao outro e dedicar antes algum espaço a trabalhar melhor as relações principais.
E por falar em personagens mal aproveitadas, olhemos para a Monique. Uma vez que ao longo da obra passamos tanto tempo a divagar pelo passado, a jornalista é a nossa âncora para o tempo presente onde somos relembrados de que há um mistério para resolver – por que é que Evelyn escolheu Monique para escrever a sua biografia? Claramente não foi pela sua qualidade jornalística tendo em conta as perguntas descabidas e infantis com que vai intervindo em algumas das entrevistas. O final é de facto estrondoso mas se tivesse sido mais explorado o lado emocional da Monique (que ao fim e ao cabo se torna uma mera personagem secundária) poderia ter tido um impacto ainda maior em mim. Apesar de ser uma grande revelação, as consequências não se fazem sentir tanto como seria de esperar num cenário idêntico. Mas é um final com todo o mérito e uma belíssima conclusão para a obra.
Em suma, compreendo perfeitamente o sucesso de “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” e sem dúvida que recomendo, a qualquer leitor. Funciona como romance, drama, mistério, contemporâneo. Evelyn não é uma protagonista que se ame e a maioria dos personagens secundários cai no esquecimento, mas o núcleo da história e das verdadeiras peripécias amorosas da actriz de Hollywood não nos sairão da memória facilmente. Talvez não seja dos melhores livros que li nos últimos tempos mas é um livro que sei que vou recordar por vários anos e pelos melhores motivos.
Conheço, mas ainda não li talvez por temer desiludir-me devido a todo o hype em torno desse livro.
Compreendo perfeitamente! Nos últimos tempos já se tem vindo a falar cada vez menos nele, mais dia menos dia podes dar uma oportunidade. É um bom livro 😉