Levantem a mão aqueles que gostam de ler sobre dramas de deuses e heróis gregos 🙋♀️. Se não for o vosso caso tenho de vos avisar desde já que o “O Canto de Aquiles” foi escrito a pensar especialmente nos fãs da mitologia helénica. Mas atenção que eu disse especialmente e não exclusivamente; este livro é suficientemente bom para eu me sentir confortável a recomendá-lo a toda a gente, por isso, leiam até ao fim!
Já todos ouvimos falar do belo Aquiles, certo? Nem que seja apenas do famoso calcanhar que lhe valeu uma morte precoce na célebre guerra de Tróia. Isto alegadamente, pelo menos é essa a história mais popular que se conta sobre como morreu o herói. Mas a gente já sabe como são estas coisas da antiguidade clássica: ninguém sabe bem o que aconteceu na realidade (provavelmente nada, estamos a falar de mitos) e portanto cada historiador/filósofo/artista criou a sua própria versão. A pergunta que nos interessa, então, é: que versões é que este livro decidiu adoptar?
⭐⭐⭐⭐⭐
Se são relativos conhecedores da história de Aquiles (ou se viram o filme com o Brad Pitt, também serve) não deverão estranhar o nome “Pátroclo“. Uns dizem que era o melhor amigo, outros que era o primo e mais ainda dizem que era o amante. Madeline Miller é claramente adepta da última opção e foi nela que se baseou para escrever este comovente e trágico romance.
Aquiles não viveu durante muitos anos (assim profetizaram as Moiras) mas o que realizou em vida é-nos relatado neste livro de forma tão integral e intensa que não passa a ideia para o leitor de que ele morreu cedo de mais. O ciclo da sua história é fechado e a sua morte parece surgir no momento certo. E quando choramos na última página (e sim, há uma grande probabilidade de verterem umas lágrimas depois de o ler) não é de tristeza mas sim de alívio e júbilo.
Desde o pai Peleu, à mãe nereida Tétis, ao centauro Quíron, à rainha Helena e ao princípe Páris, ao astuto Ulisses, à esposa Deidamia, ao bravo Heitor, à escrava Briseida e ao arqui-inimigo Agamémnon, a autora não deixa de fora nenhuma das personagens marcantes dos círculos de Aquiles. Se estiverem interessados em conhecer mais sobre os mitos do herói, não vão ficar desiludidos com o conteúdo deste livro. Mas o destaque vai indubitavelmente para Pátroclo, o grande e único amor de Aquiles.

No entanto, como protagonista e narrador, Pátroclo não é particularmente interessante, tenho de admitir. Não é um rapaz muito carismático ou destinado a grandes façanhas mas também pouco se esforça para tal. E esta é a minha única questão negativa em relação a esta história: Pátroclo não é bonito, não é um bom guerreiro, não é requintado, não vive para ganhar simpatias dos outros. Então o que raio é que Aquiles viu quando se apaixonou por ele? Acho que a expressão “Os opostos atraem-se” não é para ser levado assim tão à letra. Faz sentido que não saibamos essa informação porque acompanhamos a narrativa do ponto de vista do Pátroclo, mas nem ele perde um bocado de tempo a reflectir sobre o assunto. E é verdade que com o desenrolar da acção o protagonista cresce em maturidade e se torna mais cativante aos olhos do leitor, mas não no início de tudo. Mas provavelmente sou eu que estou a ser demasiado crítica com isto. Quando o amor acontece, acontece.
O romance entre os dois desperta e evolui de forma muito natural, primeiro a medo e de forma desajeitada até à aconchegante intimidade física e espiritual mas sem nunca cair num tom debochado. Nenhum momento do casal é descrito explicitamente no livro, embora também não deixem muito mais a desejar à nossa imaginação. A escrita é simples e pouco floreada mas não menos bonita por isso. E é precisamente nas cenas de amor entre os dois jovens que ela mais se destaca e nos toca o coração. Pelo menos eu senti-me sensível a esse nível (deve ser da idade).
“A Canção de Aquiles” é o meu livro preferido de 2021 até ao momento e só tenho a agradecer a todos os canais de Youtube e blogs que foram fazendo boas menções a este livro durante os últimos meses porque sem eles nunca lhe teria pegado. O mínimo que posso fazer é continuar a recomendá-lo a quem ainda estiver na dúvida sobre se o deve ler ou deixar passar. Leiam, por favor.

Posto isto, a questão que se segue é: será que quero ir a correr comprar o “Circe” e correr o risco de entrar em nova ressaca literária? Em plena competição Mangalipa Mania (go #teamManga!)? Se calhar não é boa ideia. Vamos deixá-lo quietinho na lista de desejos e deitar antes a mão aos livros que tenho por ler aqui em casa. Já está na hora.
Podem adquirir o livro clicando aqui, usando o meu link de afiliado. Ao fazê-lo não pagam mais por isso e ainda contribuem com uns cêntimos para este meu vício de comprar livros. Um bem-haja.
Fonte da fotografia de capa: https://patchilles.tumblr.com/
[…] O Canto de Aquiles (Madeline Miller) – Esta espécie de romance histórico que reconta o mito de Aquiles como um apaixonado pelo seu melhor amigo Pátroclo sempre me deixou com a pulga atrás da orelha e felizmente correspondeu às altas expectativas. Para quem não é conhecedor da história do jovem herói grego aprende muito com esta narrativa que acompanha os grandes eventos da sua vida, desde criança até ao suspiro final. O romance entre os dois rapazes é muito orgânico e muito enternecedor, só desejava que livro tivesse mais umas duzentas páginas. Podem ler a minha opinião aqui. […]