Não tenho por hábito ler livros de não-ficção (que maneira forçada e foleira de começar esta publicação, eu sei). Queria, no entanto, mudar esse facto de ora em diante, portanto podem esperar mais livros deste género por aqui nos próximos tempos. Não muitos, mas alguns, pontualmente. “A Força do Hábito” do jornalista Charles Duhigg, não me despertava grandes expectativas, por motivos pouco palpáveis que não vale a pena mencionar. É por isso com grande satisfação que partilho que gostei muito desta leitura e que conto, de facto, vir a aplicar alguns ensinamentos na minha vida.
O livro é relativamente extenso mas completo no que toca a exemplos e casos práticos de relatos reais e experiências referentes a hábitos que têm sido validadas ou desacreditadas pela comunidade científica em diversas vertentes, desde o social ao empresarial. Em cada capítulo é introduzido um novo conceito teórico, com alguma explicação mas sem se tornar desnecessariamente técnico. Além disso, ao longo da leitura somos relembrados de termos já mencionados e os parágrafos são frequentemente acompanhados de gráficos e imagens que ajudam a solidificar o que é suposto interiorizarmos.

No final do livro há ainda um apêndice muito útil que funciona como um guia para a aplicação empírica das ideias do livro na realidade. Não vos vou dizer que já obtive resultados (até porque primeiro teria de identificar hábitos que me interesse alterar de momento) mas só o facto de estar mais consciente de como a “psicologia” do hábito funciona já nos faz racionalizar alguns dos nossos comportamentos. Mais ou menos da mesma forma que passamos a pensar duas vezes antes de comer uma gelatina depois de sabermos que é feita a partir da pele de vacas e porcos. Que bela comparação.
É claro que nem tudo no livro é diretamente aplicável. Os chamados “hábitos-chave“, que designam hábitos aparentemente inócuos que só com o tempo se nota de facto os seus efeitos, não são fáceis de identificar. Pode levar meses ou até anos para percebermos as verdadeiras consequências de pequenas ações que fazemos. Para além disso, há hábitos que só conseguem ser detetados e modificados com recurso a terapias de grupo. Ou ainda, em casos mais extremos, em que é preciso uma tragédia muito próxima para nos fazer alterar a nossa fé, a nossa visão e, consequentemente, os nossos hábitos.

Concluindo, “A Força do Hábito” fez-me refletir e ainda me deu material para aplicar à minha singela existência – tudo o que espero de um livro de autoajuda. É um livro que está ainda recheado de histórias reais de personalidades do desporto, do marketing ou de causas sociais, o que para mim é sempre um bónus – por muito má que a teoria seja, sempre adquirimos alguma cultura geral. Espero que não se assustem com o tamanho do livro ou com o preconceito do género e, tal como eu, deem uma oportunidade à obra. Para mim, foi uma boa aposta.

A maioria das opções que tomamos parecem-nos resultado de decisões muito bem pensadas, mas não. São hábitos.
E se cada hábito isoladamente parece pouco relevante, com o passar do tempo os alimentos que comemos, o que dizemos aos filhos, as decisões que tomamos de poupar ou gastar, a frequência com que fazemos exercício e a forma como organizamos os nossos dias, acabam por ter um impacto enorme sobre a saúde, produtividade, bem-estar económico e felicidade.
Transformar um hábito não é necessariamente fácil ou rápido. Nem sequer é simples. Mas é possível. E, hoje, graças a este livro sabemos como.