“Os Pilares da Terra” é até hoje dos meus romances históricos preferidos de sempre, mesmo após dez ou mais anos volvidos desde a minha última leitura. Publicado em 1989, seria o primeiro volume da série “Kingsbridge” do autor britânico Ken Follett, uma saga que acompanha a evolução da vila inglesa de Kingsbridge ao longo de vários séculos de História. Entretanto já foi publicada uma prequela – “O Amanhecer de Uma Nova Era” que remonta ao século X, e a sequela mais recente – “A Armadura de Luz” já nos transporta ao século XVIII. São livros cuja acção se estende por alargados espaços temporais e que através de um diversificado leque de personagens nos faz reviver os maiores acontecimentos da história de Inglaterra e da Europa bem como as suas consequências nas camadas menos e mais privilegiadas da população.
Em “Uma Coluna de Fogo” viajamos desde os finais do século XVI até ao século XVII. É um período particularmente rico e interessante: D. Maria I, The Bloody Mary, está no trono e leva avante a sua aguerrida perseguição aos protestantes, antigamente protegidos no reinado do seu pai Henrique VIII após ruptura com a Igreja Católica. Protestantes praticam em segredo e os católicos vivem livremente as suas tradições, mas estes começam a dormir de olho aberto assim que surgem os rumores de que a herdeira do trono, Isabel I, não nutre a mesma simpatia e mesmos ideais religiosos que a sua meia-irmã.
Toda a Europa do século XVI está a braços com lutas religiosas, com algumas nações a tender mais para a tolerância do que outras. Espanha, o Império mais rico do mundo, é acérrimo católico, conservador e inquisidor. Já outros como a França e os Países Baixos são influenciados pelos apoiantes clandestinos de João Calvino e começam a assistir a uma proliferação do protestantismo. Estas discrepâncias geram conflitos sangrentos e discórdias políticas que prevalecerão durante muitas décadas, mesmo para lá da janela temporal abordada neste livro.
Ao longo de 750 páginas Ken Follett leva-nos a viajar por este panorama europeu, sob o olhar de múltiplas personagens. Os protagonistas podem ser fictícios mas são eles que dão acesso a vultos bem reais como Mary Tudor e Isabel I na Inglaterra, Mary Stuart “Queen of Scots” da Escócia, D. Filipe II de Espanha (e I de Portugal) e vários reis e lordes de França. Para além das grandes potências europeias temos ainda algum destaque do “Novo Mundo”, a América recém-descoberta, e a inóspita Escócia a lutar com problemas de sucessão, como é habitual. Infelizmente Portugal não chegou a ser visado na obra mas tendo em conta que é abarcado o tempo em que fomos subjugados pelos vizinhos espanhóis (a infame Dinastia Filipina), se calhar foi pelo melhor.
Esta foi uma leitura da qual desfrutei imenso, embora esteja consciente de que o principal motivo seja o meu fascínio por História no geral. Estive constantemente a pesquisar a veracidade dos eventos narrados no livro e nesse aspecto é uma excelente adaptação, muito fiável. Aprendi imenso e se é isso que procuram também, acho que vão gostar muito do livro.
No entanto, tenho noção que é um livro muito denso e provavelmente demasiado ambicioso. Apesar de ser um volume enorme (como são todos os da série) seria impossível numa só história conseguir ser detalhado a tantos níveis como o Ken Follett se propôs. Há temas que são introduzidos mas que posteriormente são totalmente abandonados ou apenas mencionados esporadicamente. A inquisição espanhola e o comércio de escravos são apenas dois pequenos exemplos mas o mais flagrante para mim é o percurso de Mary Stuart, rainha pretendente ao trono da Escócia, que no começo parece vir a surgir como uma personagem de destaque mas que vai a pouco e pouco desaparecendo das páginas até que décadas da sua vida acabam resumidas e coligidas em poucos parágrafos. Uma desilusão. E se isto acontece com as personagens “reais” então é ainda pior com as fictícias; de todos os livros que li da colecção até agora este é de longe aquele em que os protagonistas e as suas relações foram menos desenvolvidas e trabalhadas. Há vilões que têm um desfecho tão abrupto que nem nos dá tempo ou vontade de rejubilar.
Mesmo com estes pontos negativos que reconheço que existem, “Uma Coluna de Fogo” foi, para mim, uma leitura incrível, um doce para aquela parte de mim que sonhava ter tirado um curso superior de História. Não é um livro que recomende a qualquer um, longe disso, mas se houver por aí fanáticos do tema e desta série do Ken Follett, então este não é para perder.