É algo agridoce falar deste livro uma vez que me obriga a falar da enorme perda para a literatura nacional que foi a partida prematura de Luís Miguel Rocha. Fascinado com o Vaticano e as conspirações por trás da Igreja enquanto instituição, diz-se que foi o primeiro português na lista de best-sellers do New York Times com o seu famoso “O Último Papa”. Foi esse o primeiro livro da sua série de thrillers religiosos que infelizmente nunca alcançou a longevidade almejada (e merecida) pois Luís faleceu com apenas 39 anos em 2015. E assim os leitores portugueses ficaram destinados a saciar a sua sede do género com José Rodrigues dos Santos, porque não há justiça neste mundo.
“O Último Papa” é precisamente o único livro do qual já escrevi aqui uma opinião e que recomendo lerem primeiro se não estiverem já familiarizados com a série. Apesar de já ter lido os restantes volumes, fi-lo há tantos anos que já não estou em condições de escrever sobre eles (alerta de possível releitura!). Foi também por saber que a fonte tinha secado que demorei anos para pegar no “A Resignação“. Depois deste só me restam “Um País Encantado” (que está esgotado) e “Curiosidades do Vaticano” (que na verdade é só uma mini-enciclopédia) e acabam-se as “novidades” do autor para mim.
O “pior” disto tudo, para além disso, é que esta obra nem sequer pode ser avaliada como uma obra integral do autor, porque não o é, de facto. O Luís partiu aquando da escrita do romance e em forma de homenagem os seus amigos Porfírio Pereira da Silva e Rui Sequeira tomaram o desafio de concluir e publicar o livro, baseando-se em notas que o autor teria deixado. Mas e de que se trata esta resignação? Como o próprio prólogo indicia, foca-se na abdicação do Papa Bento XVI ao trono de S. Pedro, um tema acerca do qual o autor estava muito entusiasmado para explorar e conspirar sobre (spoiler – infelizmente o livro não desenvolve muito o tema).
Rafael Santini e Sarah Monteiro estão de volta e têm o seu arco fechado, mais para deleite dos leitores do que por lógica do enredo. De certeza que o Luís tinha mais títulos em mente e esta dupla estaria destinada a mais desenvolvimento mas pelo menos desta forma recebem algum tipo de conclusão, por mais inadequada que possa parecer. Ler este livro é como ver um trailer de um filme para depois nos apercebermos que o trailer é o próprio filme, se é que isto faz algum sentido. Já o livro está a mais de meio e ainda estamos a ser apresentados a personagens aleatórias que não se percebe onde encaixam. O final é bastante apressado mas não propriamente decepcionante porque na verdade a narrativa não constrói muito suspense ou uma ideia do que poderá ser o grande conflito da história. Como estamos tão pouco tempo com as personagens não chega para ficarmos nervosos ou ansiosos em relação ao culminar dos arcos dos protagonistas nem regozijar com o tratamento dos vilões.
Não é justo julgar este livro como a conclusão da série “O Vaticano”. É óbvio que havia muito potencial com as fontes do autor sobre as “Vatileaks” e as teorias por trás da resignação do Papa e os autores fizeram o seu melhor para dar um bom final ao romance, mas é óbvio que fica aquém da restante série. E sendo que a alternativa seria não termos livro nenhum, acho que este foi um bom esforço pela qual estou agradecida.
Não o recomendo a quem quer ler um thriller sólido e empolgante. “A Resignação” é uma homenagem, um adeus, um tributo a Luís Miguel Rocha e é nessa condição que deve ser abordado. Recomendo sim aos muitos fãs da série e que queiram também eles despedir-se do Rafael, da Sarah e do JC, ainda que os possamos reencontrar muitas vezes nas páginas de uma releitura.