The Psychology of Time Travel (fui a única a ler isto?)

A segunda leitura que faço no contexto do grupo de leitura The Characters Club da Inês e da Carolina (já escrevi sobre a primeira que podes ler aqui). Não sei como é organizada a curadoria e seleção dos livros do mês mas devo dizer que estou muito satisfeita pois assim tenho descoberto livros que não vejo ser falados em mais lado nenhum. E é bom sair da bolha do mainstream de quando em vez. “The Psychology of Time Travel” é o quarto livro da britânica Kate Mascarenhas, autora ainda não publicada em Portugal e que só começou de facto a ganhar notoriedade com a publicação deste título em 2018. Classificado como um romance de mistério, fantasia e ficção científica, é um livro curioso que adota um pouco de cada um desses géneros mas sem se comprometer demasiado com nenhum.

Primeiro, a sinopse. Na década de 60, quatro jovens cientistas mulheres alcançam finalmente o que tentavam fazer há anos – inventar uma máquina do tempo. Embora só permita viajar para o futuro e não para o passado, é ainda assim um prodígio que causa furor na Grã-Bretanha e as quatro dedicam o resto das suas vidas ao aperfeiçoamento da ideia. Ou melhor, três delas fazem-no, uma vez que Barbara (aka “Bee”) é inexplicavelmente afastada do projeto para sempre. Passam-se cinquenta anos, estamos em 2017, e a neta de Bee, Ruby, recebe uma mensagem do futuro que parece indicar que a avó está prestes a ser assassinada. Começa então uma investigação e uma corrida contra o tempo com o objectivo de salvar Bee e até desvendar o mistério que levou ao seu exílio científico.

Não é uma leitura muito fácil de acompanhar por estar dividido em três espaços temporais: o plano de 1967 quando a máquina foi inventada, o ano de 2017 em que Ruby recebe a mensagem e ainda o presente em 2018 onde conhecemos outra protagonista, Odette, uma jovem que encontra um cadáver de uma idosa num museu. Os capítulos são curtos, o que para muitos leitores é um ponto positivo, mas neste caso complica a experiência de leitura porque somos obrigados constantemente a trocar o “chip” para nos posicionarmos em cada um dos três cenários. Ainda estamos a tentar contextualizar o que aconteceu num capítulo e logo de seguida temos de deixar de lado porque viajamos no tempo para outro ano, outras personagens e outra história.

Se, tal como eu, não são grandes fãs de ficção científica e temem o jargão técnico e complexo associado às teorias de viagem no tempo, podem ficar descansados porque não o vão encontrar aqui. Embora a máquina do tempo seja crucial para a história, nunca é de facto explicado como é que o aparelho funciona, não há conversas sobre física quântica ou “space-time continuum” nem nada do género. It just works! Há sim discussões filosóficas sobre a ética e moral envolvidas no facto de podermos conviver com os nossos “eus” do futuro e do passado e de que forma é que uma pequena intervenção pode alterar todo o nosso universo dali para a frente, nosso e dos que nos rodeiam. É uma perspetiva muito interessante para abordar em relação a este paradigma da ciência mas que também ela deixou muito a desejar e que poderia ter sido mais abordada.

De forma geral foi um bom livro mas que ficou aquém do seu potencial. Gostei do mistério, das personagens e das viagens no tempo tornadas corriqueiras, mas acho que para o que se propunha precisava de mais páginas e de um ritmo mais envolvente. Não é suposto ser um thriller (e ainda bem, acho que não funcionaria) mas é certo que também passamos grande parte da obra sem esperar grande coisa porque não é indiciada, até muito tarde, nenhuma direção para onde a história esteja a convergir, pelo que estamos a virar páginas por virar mas sem grande curiosidade. E mesmo o final sendo satisfatório parece que ficam questões em aberto e pontas soltas sem razão para terem sido introduzidas de todo.

Posto isto, mesmo não sendo uma obra brilhante, não quero deixar de a recomendar porque é diferente, fora da caixa, e tem uma premissa original que, mesmo não entregando tudo, nos entretém um bocado e nos deixa a expectar que outras boas ideias possam vir da autora, talvez essas já melhor concretizadas.

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